Glândulas e doenças Endócrinas

Contraceção Feminina

A contraceção é uma forma de tratamento, aplicável quando a mulher pretende evitar uma gravidez indesejada ou esta não é aconselhável por existir uma doença ou uma condição clínica em que o uso de alguns métodos é susceptível de aumentar os riscos para a saúde. Nestas situações a escolha deve ser sempre orientada pelo médico assistente ou especialista.

Existem vários métodos: hormonais, não hormonais, mecânicos, cirúrgicos e os naturais. Existem ainda métodos para contraceção de emergência, disponíveis para permitir prevenir uma gravidez após uma relação sexual não protegida.

Os vários métodos naturais apresentam uma eficácia anticonceptiva muito inferior aos restantes, implicam que a mulher tenha ciclos regulares e um grande conhecimento sobre os sinais a valorizar (ovulação, temperatura, muco cervical,…) e que os dias do ciclo sem risco de gravidez são muito poucos.

A selecção do método depende da condição clínica da mulher, das contra-indicações, dos efeitos secundários e da sua preferência ou aplicabilidade.

 

Quais os métodos contracetivos disponíveis?

Os diversos métodos contracetivos classificam-se em:

Hormonais

Combinados (COC)

associação de estrogénios e progestativos que inibem a ovulação

 

Orais (pílula)

 

 

Anel vaginal

 

 

Transdérmicos (selos)

 

 

 

Progestativos (CP)

composta por progestativos que inibem a ovulação e espessam o muco cervical impedindo que o espermatozóide chegue ao óvulo

 

Orais

 

 

Injetável – administração intramuscular cada 12 semanas

 

 

Implante – administração na face interna do braço com duração de 3 anos

 

 

Sistema Intrauterino (SIU) - duração de 3 a 5 anos

 

Não Hormonais

Dispositivo Intrauterino (DIU) – condiciona uma reação inflamatória local e toxicidade para o esperma e óvulo. Não tem efeito sistémico.

 

Barreiras

Preservativo feminino - barreira física aos espermatozóides, de uso único

Diafragma e espermicida - dispositivo de silicone que cobre o colo do útero impedindo a entrada dos espermatozóides; é utilizado juntamente com espermicida, uma substância que destrói os espermatozóides; reutilizável.

 

Naturais

Calendário

Coito interrompido

Muco cervical

Temperatura Basal

Amenorreia durante o aleitamento

 

CIRÚRGICOS/PERMANENTES

Laqueação de trompas – oclusão das trompas

Salpingectomia – exérese das trompas

 

EMERGÊNCIA

Hormonal (oral)

- acetato de ulipristal

 

- progestativo

Não hormonal (DIU)

 

 

Estes métodos apresentam benefícios não contraceptivos? Quais são?

 

HORMONAIS Combinados

Melhoria da dor e outros sintomas associados à menstruação

Redução ou ausência de fluxo menstrual

Melhoria da síndrome pré-menstrual

Redução de hemorragia associada a fibromiomas uterinos

Redução do aparecimento de quistos funcionais ováricos

Redução dos sintomas da endometriose

Melhoria dos afrontamentos na peri-menopausa

Tratamento de acne ou hirsutismo (excesso de pelo)

Prevenção de alguns tipos de cancro como o do ovário, endométrio e colo-retal

 

HORMONAIS Progestativos

Melhoria da dor menstrual e fluxo abundante

Redução da perda da massa óssea nas mulheres a amamentar

Redução do crescimento de miomas uterinos

Menor risco de tromboembolismo, diabetes e hipercolesterolémia

Redução do risco de cancro ovário e do endométrio

 

Quais as contraindicações e os efeitos adversos mais frequentes?

Método contracetivo

Contraindicações

Efeitos adversos

Contraceção hormonal combinada

  • mulheres fumadoras com > 35 anos
  • hipertensão arterial grave
  • pós-parto ou pós-abortamento
  • antecedentes de:
    • tromboembolismo venoso
    • tromboflebite
    • enfarte agudo do miocárdio
    • acidente vascular cerebral
    • enxaqueca com aura
    • hemorragia genital inexplicada
    • cancro da mama
    • diabetes com complicações crónicas
    • obesidade (IMC>35kg/m2)
  • toma de alguns fármacos
  • pilula: condições que comprometem a absorção intestinal
  • hemorragias intracíclicas (spotting)
  • ausência de hemorragia de privação
  • náuseas
  • vómitos
  • tensão mamária
  • cefaleias
  • selo/adesivo transdérmico: reações cutâneas
  • anel vaginal: corrimento vaginal

Contraceção hormonal progestativa

  • cancro da mama
  • cirrose hepática grave
  • hemorragia genital inexplicada
  • pílula: condições que comprometem a absorção intestinal
  • pilula e implante subcutâneo: toma de toma de alguns fármacos
  • injeção: hipertensão grave, diabetes com complicações, antecedentes de tromboembolismo venoso ou pulmonar

 

  • redução ou ausência de hemorragia de privação
  • tensão mamária
  • cefaleias
  • acne
  • injeção: reação alérgica, redução reversível da densidade do osso
  • implante: estimulação de quistos funcionais do ovário, infeção, expulsão, migração

Dispositivo intrauterino de cobre

  • gravidez
  • malformações uterinas
  • doença inflamatória pélvica
  • doença maligna do trofoblasto
  • doença de Wilson
  • alergia ao cobre
  • aumento do fluxo menstrual
  • risco de perfuração uterina
  • infeção
  • expulsão
  • gravidez ectópica

Laqueação de trompas/salpingectomia

  • risco cirúrgico elevado
  • dor ovulatória
  • hemorragias uterinas anómalas
  • aumento da duração e do fluxo menstrual
  • gravidez ectópica

Preservativo

  • malformações vaginais
  • alergia ao poliuretano ou látex

 

Diafragma

  • durante período menstrual
  • malformações uterinas ou vaginais
  • prolapso uterino
  • alergia ao látex ou espermicida
  • infeções urinárias de repetição
  • infeções pélvicas

Métodos naturais

  • se a gravidez constitui um risco inaceitável
  • adolescência e peri-menopausa
  • irregularidades menstruais
  • condições que dificultem o reconhecimento de sinais de fertilidade

 

Contracetivo oral com acetato de ulipristal

  • asma não controlada
  • doença hepática grave
  • intolerância à lactose

 

  • náuseas
  • vómitos
  • cefaleias
  • dor pélvica

 

Quais os medicamentos que podem interferir nos métodos contracetivos?

A toma simultânea de alguns fármacos ou algumas situações clínicas podem condicionar redução na eficácia dos métodos hormonais. Esteja atenta ao folheto informativo do medicamento e informe-se com o seu médico.

  • Situações que cursam com menor absorção do contracetivo oral, como vómitos ou diarreia.
  • Toma da erva de São João (Hipericão) em chá, infusão ou capsulas
  • Orlistato (preferencialmente não usar)
  • Alguns antibióticos
  • Antiepiléticos
  • Antifúngicos
  • Antirretrovirais
  • Micofenolato (usado no tratamento de doenças inflamatórias intestinais).

 

Os métodos contracetivos comportam riscos para a minha fertilidade?

À exceção da laqueação de trompas/salpingectomia, nenhum método compromete a fertilidade.

A gravidez é possível nos primeiros meses após a suspensão dos contracetivos hormonais orais combinados e progestativos, selos/adesivos transdérmicos, implante subcutâneo, dispositivos intrauterinos e anel vaginal.

No caso do progestativo injetável, a fertilidade retorna ao normal ao fim de 6 a 9 meses.

 

Quais os métodos que conferem proteção contra infeções sexualmente transmissíveis?

O preservativo é o único método que previne a infeção por doenças sexualmente transmissíveis.

 

Qual o método contracetivo mais adequado para mim?

Há vários fatores a ter em conta para a escolha de um método contracetivo, nomeadamente a eficácia, conveniência, contraindicações, tolerabilidade dos efeitos adversos, benefícios não contracetivos, duração pretendida da contraceção, tempo até ao retorno da fertilidade após suspensão e acessibilidade.

Deve discutir estes fatores junto do seu médico, que a irá ainda aconselhar de acordo com a sua situação e condição clínica.

 

Situações clínicas específicas:

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu critérios médicos de elegibilidade para os diferentes métodos anticoncetivos nas diferentes condições médicas e que descrevem em seguida relativamente às patologias endócrinas mais frequentes:

 

Categoria

 

Decisão clínica específica

Decisão clínica global

  1. Não existem restrições ao uso do método
 

 

Método usado em todas as circunstancias

 

Pode usar o método

  1. As vantagens do uso do método superam os riscos provados ou teóricos
 

 

Método pode ser usado sob vigilância médica

 

Pode usar o método

  1. O risco provado ou teórico do método supera as vantagens
 

O uso do método não é recomendado a menos que outro não esteja disponível ou não seja aceite

 

Não usar o método

  1. O uso do método representa um risco inaceitável para a saúde
 

 

Método a não usar

 

Não usar o método

 

Condição clínica

CHC

O/V/T

P oral

P injet

Impl

SIU

DIU

Diabetes sem complicações

 

1

1

1

1

1

1

 

Diabetes >20 anos duração ou com complicações microvasculares.

3/4

2

3

2

2

1

Diabetes com complicações macrovasculares

4

2

3

2

2

1

Dislipidemia sem factores de risco cardiovasculares

2

2

2

2

2

1

Dislipidemia não controlada ou com + factores risco cardiovasculares

3/4

2

3/4

2

2

1

Excesso de peso

(IMC 25-29,9 Kg/m2)

1

1

1

1

1

1

Obesidade IMC>30 Kg/m2

e <18 anos de idade

2

1

2

1

1

1

Obesidade

IMC de 30 a 34 Kg/m2

2

1

1

1

1

1

Obesidade

IMC > 35 Kg/m2

3

1

1

1

1

1

Obesidade com factores de risco cardiovascular (tabagismo, hipertensão, dislipidemia)

3

1

3

1

1

1

Obesidade após cirurgia bariátrica (sleeve/banda gástrica)

1

1

1

1

1

1

Obesidade após cirurgia bariátrica (By-pass)

3

3

1

1

1

1

Múltiplos factores de risco de doença cardiovascular

(idade, tabagismo, diabetes e HTA)

3/4

2

3

2

2

1

Doença tiroideia (Bócio, Hipotiroidismo, Hipertiroidismo)

1

1

1

1

1

1

 

Hiperprolactinemia

1

1

1

1

1

1

 

CHC O/V/T - Contracetivo hormonal combinado; O oral; V anel vaginal; T transdérmico
P oral – Progestativo oral
P injet - Progestativo injetavel
Implante - Implante de progestativo
SIU - Dispositivo intra-uterino com progestativo
DIU - Dispositivo intra-uterino de cobre

 

Outras condições clínicas

Tenho Síndrome de Ovário Poliquístico

O contracetivo hormonal combinado é o principal tratamento da síndrome de ovário poliquístico. Melhora as manifestações da doença como o pelo excessivo, acne, queda de cabelo ou irregularidades menstruais para além da sua função anticoncetiva. Apenas deverá ser considerado um outro método caso esteja presente alguma contraindicação ao seu uso.

 

Estou a entrar na menopausa

Na mulher saudável na peri-menopausa todos os métodos podem ser equacionados, sendo os contracetivos hormonais combinados e os progestativos injetáveis menos aconselhados. Se não se verificarem contra-indicações e surgirem sintomas vasomotores difíceis de tolerar, os contracetivos hormonais combinados podem ser eficazes na melhoria destes sintomas mas não são aconselhados a mulheres com mais de 50 anos. Em caso de contraindicação à utilização de estrogénios ou na ausência de sintomas vasomotores, a contraceção hormonal progestativa é altamente recomendável, sobretudo com o SIU, sendo este também útil no tratamento da hemorragia anómala típica da menopausa. Tanto o implante como o dispositivo intrauterino de cobre não são aconselhados nesta última situação.

 

Tenho casos na família de trombose ou tromboembolia venosa

Quando há história pessoal ou familiar de trombose ou tromboembolia venosa, o que sugere a possibilidade de a mulher ser portadora de uma patologia que favoreça fenómenos trombóticos, não se recomenda a utilização de contracetivos hormonais combinados nem de progestativos injetáveis.

Documentos anexos