Glândulas e doenças Endócrinas

Diabetes MODY

A diabetes tipo MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young) é um tipo de diabetes mellitus rara, que se diferencia da diabetes tipo 1, porque há manutenção da produção de insulina pelo pâncreas, e diversa da diabetes tipo 2, porque surge geralmente em idades mais novas e com frequência necessita de tratamento com insulina. É uma doença hereditária (é transmitida de pais para filhos) devida a uma mutação genética. Um filho ou filha de uma pessoa que tenha este tipo de diabetes tem  50% de probabilidade de ter a mutação e de desenvolver esta doença (transmissão autossómica dominante).

Por ser uma doença hereditária é frequente que na família haja irmãos, um dos pais e outros familiares afetados - no ramo da família respetiva (paterna ou materna consoante seja o pai ou a mãe, quem transmitiu o gene mutado). Quem tenha o gene mutado, pode desenvolver este tipo de diabetes, geralmente na adolescência ou mesmo na idade adulta. Frequentemente os familiares afetados não sabem que têm diabetes tipo MODY, uns podem ter o diagnóstico de diabetes tipo 1 (frequentemente a diabetes MODY surge antes dos 25 anos)  outros  de diabetes tipo 2 (quando surge mais tarde). Sempre que há muitos familiares com diabetes numa família, especialmente se não estiver associada a obesidade, deve-se colocar a hipótese de ser uma diabetes tipo MODY. 

A prevalência conhecida da diabetes tipo MODY (2% do total de pessoas com diabetes) parece estar subestimada, uma vez que algumas dessas pessoas não têm sintomas (não sabendo que têm diabetes) e muitas das pessoas com diagnóstico de diabetes estão erradamente classificadas, como tendo diabetes tipo 1 ou tipo 2. A importância do correto diagnóstico da diabetes pode levar a alterar o tipo de tratamento, para se obter um melhor controlo glicémico, bem como antecipar o diagnóstico nos filhos e ajudar também outros familiares com diabetes, tanto em termos de diagnóstico como de tratamento.


Apresentação Clínica

A apresentação clínica do MODY é variável, podendo os doentes ser assintomáticos (sem queixas) ou apresentarem sintomas que são comuns aos outros tipos de diabetes como:

  • sede intensa (polidipsia) e aumento do volume de urina produzida (poliúria) perda de peso com súbito aumento de apetite (polifagia). 
  • A existência de diversas mutações identificadas (pelo menos 14 identificadas) como causa de MODY, explica a heterogeneidade entre os vários tipos de MODY, sendo que a identificação do gene responsável possibilita tratar mais eficazmente o indivíduo, melhorando o seu prognóstico e diagnosticar mais precocemente outros familiares afetados.

O diagnóstico de diabetes mellitus em idade jovem, pode conduzir a uma falsa assunção de se tratar de diabetes tipo 1. No entanto, a diabetes MODY difere daquela diabetes pela ausência dos característicos anticorpos circulantes e pela demonstração de estar mantida a produção pancreática de insulina (embora que defeituosa). Por este motivo, nalguns subtipos de MODY consegue-se obter um bom controlo das glicemias, apenas com medicamentos orais (comprimidos), o que é impossível na diabetes tipo 1. 

A frequência com que ocorre em vários familiares, pode explicar também a dificuldade em se distinguir da diabetes tipo 2 (que também é uma doença hereditária mas muito mais complexa: há vários genes que facilitam o seu aparecimento mas também depende dos hábitos de vida e da existência de obesidade). Assim, a ausência de fatores de risco cardiovascular e de insulinorresistência associados à diabetes mellitus tipo 2, como a hipertensão arterial, a dislipidemia e a obesidade/excesso de peso, devem conduzir o médico assistente à suspeição diagnóstica de diabetes tipo MODY.


Quando devo suspeitar de diabetes MODY?

  • Diagnóstico de diabetes em pessoas com idade inferior a 25 anos 
  • Diabetes em duas ou mais gerações numa família
  • Secreção de insulina mantida por vários anos, apesar do diagnóstico inicial de diabetes tipo 1


Diagnóstico

Uma pessoa com diabetes, que tenha 1 ou mais critérios de suspeição de MODY, deve efetuar um estudo genético dos genes associados aos diversos subtipos de MODY. Se for confirmado o diagnóstico de MODY, por deteção de uma mutação associada a um subtipo de MODY, a mesma mutação deve ser procurada nos familiares que tenham também diabetes. 


Tratamento

É adaptado de acordo com cada um dos tipos de MODY. Nalguns tipos é importante o tratamento com insulina (quando é muito deficiente a resposta insulínica do pâncreas); noutros tipos pode obter-se bons resultados apenas com medicação oral (comprimidos). Apresentam-se 3 subtipos de diabetes MODY mais frequentes e as terapêuticas aconselhadas.

MODY 1

É rara – representa apenas 3 a 5% de todos casos de MODY. Resulta de mutação no gene HNF4-alfa. Este tipo de diabetes caracteriza-se pela boa resposta ao tratamento com sulfonilureias (um tipo de medicamentos antidiabéticos orais). 

MODY 2

É uma das formas mais comuns de diabetes MODY (mais de 30%) e na sua forma heterozigótica (apenas um dos pais forneceu o gene mutado), caracteriza-se por elevar o limiar glicémico, a partir do qual há estímulo para o pâncreas libertar insulina. Nestas pessoas, a diabetes induz apenas ligeira elevação da glicemia (concentração de açúcar no sangue), sem queixas associadas. Por este facto geralmente os valores de Hb A1c (que traduz a glicemia media dos últimos 3 meses) são quase normais e não há desenvolvimento de complicações crónicas diabéticas. Por estes motivos, não é recomendado nenhum tratamento, para além da dieta e hábitos de vida saudáveis. 

MODY 3

É causada por mutação no gene HNF1-alfa e é a forma mais frequente de diabetes MODY. As complicações crónicas vasculares associadas a esta diabetes ocorrem de forma semelhante como as da diabetes tipo 2. Desenvolvem-se mais precocemente e intensamente quanto pior o controlo glicémico. Respondem bem ao tratamento com sulfonilureias (uma classe de antidiabético oral). 

Os restantes subtipos de Diabetes MODY são extremamente raros e geralmente obrigam a instituir tratamento com insulina lenta e insulina rápida às refeições.


Conclusão

É importante o correto diagnóstico do tipo de diabetes mellitus. A identificação da diabetes tipo MODY possibilita não só o correto tratamento desta patologia, mas também a identificação em familiares com diabetes e o aconselhamento genético para avaliação do risco de MODY nos filhos do doente e dos restantes familiares portadores da mutação genética. 
O teste genético realiza-se através de uma colheita de sangue periférico comum, embora seja apenas efetuado em laboratórios de Genética. 
Apesar da disponibilidade de meios para o diagnóstico de diabetes MODY, a correta identificação destes doentes permanece um desafio. A repercussão da sua identificação no tratamento destes doentes e dos seus familiares, e a ponderação entre custos e benefícios, são motivo para considerar este tipo de diabetes no diagnóstico diferencial, com os outros tipos mais comuns de diabetes.

 

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Sempre que há muitos familiares com diabetes numa família, especialmente se não estiver associada a obesidade, deve-se colocar a hipótese de ser uma diabetes tipo MODY.

Uma pessoa com diabetes que tenha 1 ou mais critérios de suspeição de MODY, deve efetuar um estudo genético dos genes associados aos diversos tipos de MODY.

A identificação da diabetes tipo MODY possibilita não só o correto tratamento desta patologia, mas também a identificação em familiares com diabetes e o aconselhamento genético para avaliação do risco de MODY nos filhos do doente e dos restantes familiares portadores da mutação genética.

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