Glândulas e doenças Endócrinas

Diabetes tipo 1

Conceitos de glicose, insulina e diabetes

A diabetes é uma doença crónica caracterizada por um aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue. A glicose é a fonte de energia mais importante para o nosso corpo, com especial relevância para o cérebro. Está presente em todos os alimentos que contenham hidratos de carbono, ou seja, está no açúcar propriamente dito, mas também na massa, cereais, batata, leguminosas e vários outros alimentos. A insulina é uma hormona produzida no pâncreas, que funciona como a chave para a entrada da glicose em várias células do nosso corpo, permitindo a utilização e o armazenamento da energia e sendo, assim, essencial para a vida.

 

Tipos mais comuns de diabetes e suas diferenças

A forma mais comum de diabetes é a tipo 2, que surge maioritariamente a partir da meia-idade e em associação a excesso de peso. A diabetes tipo 1 é muito menos frequente, mas é a forma mais comum em crianças e jovens adultos. No entanto, ambos os tipos podem surgir em qualquer idade. Ao contrário da diabetes tipo 2, a diabetes tipo 1 não é desencadeada por nenhum comportamento ou tipo de alimentação, e, como tal, não é possível preveni-la. De facto, por motivos ainda desconhecidos, o sistema de defesa do corpo de alguns indivíduos reconhece erradamente as células produtoras de insulina do pâncreas como suas inimigas e leva à sua destruição, gerando a diabetes tipo 1. Isto resulta numa incapacidade de produzir insulina e consequente necessidade de tratamento com insulina para o resto da vida. 

 

Queixas e manifestações da diabetes

Na diabetes tipo 1, a ausência de insulina faz com que a glicose não consiga entrar nas células e se acumule no sangue. Assim, o organismo é obrigado a utilizar fontes alternativas de energia, nomeadamente as proteínas dos músculos e as gorduras. Isto leva a perda de peso, cansaço, visão turva e sensação de fome. Ao mesmo tempo, o organismo vai tentar eliminar a glicose em excesso na urina, o que se traduz numa necessidade de urinar mais vezes, acompanhada por sensação de sede. Quando o organismo tem necessidade de recorrer às gorduras para obter energia, tem de as transformar em compostos energéticos designados “corpos cetónicos”, que são uma alternativa temporária à glicose. Na ausência de tratamento, os corpos cetónicos começam a acumular e tornam-se tóxicos para o organismo, originando subitamente um mal-estar generalizado, com enjoos, vómitos e dor de barriga – uma situação que se designa por cetoacidose diabética e que requer tratamento urgente. O diagnóstico de diabetes tipo 1 pode mesmo ser feito a partir destas queixas. Em situações de doença aguda, como infeções graves, as pessoas com diabetes tipo 1 também poderão ter queixas de cetoacidose diabética, sobretudo se as doses de insulina não forem ajustadas.

 

Critérios de diagnóstico

O diagnóstico de diabetes é sugerido pelas queixas e confirmado pelos valores de glicose no sangue (glicemia). Fazem o diagnóstico: glicemias em jejum ≥126 mg/dl, glicemias ocasionais ≥200 mg/dl com sintomas ou valores de hemoglobina glicada (HbA1C) ≥6,5%, representando esta última uma glicemia média dos últimos 3 meses >140 mg/dl. O diagnóstico também pode ser feito numa Prova de Tolerância à Glicose Oral (PTGO), que consiste na ingestão de 75g de glicose dissolvida em água, determinando-se a glicemia duas horas depois: se a glicemia for ≥200 mg/dL, o diagnóstico é confirmado.

 

Complicações a longo prazo

Valores sustentadamente elevados de glicose no sangue podem levar a complicações de saúde a longo prazo, pois danificam os rins, olhos, nervos e artérias, com risco acrescido de enfarte, AVC e outras condições graves. A lesão dos nervos nos pés pode levar à diminuição da sensação de dor, com risco de feridas de difícil cicatrização. No entanto, estas complicações podem ser evitadas com um bom controlo da doença. 

 

Tratamento, objetivos e riscos associados

O tratamento da diabetes tipo 1 assenta em 3 pilares: insulina, alimentação equilibrada e exercício físico. A motivação pessoal para a aprendizagem e tratamento da doença é essencial para o sucesso do tratamento. Os objetivos recomendados habitualmente são: glicemias entre 70-180mg/dl e HbA1C de 7%, mas devem ser adaptados e individualizados em cada pessoa. O tratamento com insulina tem o risco de baixar a glicemia para valores indesejáveis (<70mg/dl), designados por hipoglicemias. Estas podem ser perigosas, porque impedem o funcionamento normal do cérebro, com consequente alteração da consciência, desmaio, coma e até morte, se não forem corrigidas. Assim, é extremamente importante identificar as queixas associadas às hipoglicemias (palpitações, tremores, suores, tonturas, irritabilidade, entre outros), para as conseguir identificar e corrigir rapidamente.

 

Como fazer as tomas de insulina e a monitorização das glicemias

O pâncreas das pessoas não diabéticas está constantemente a produzir insulina, libertando-a de duas formas: uma mantida ao longo do dia, de quantidades pequenas (basal), e uma mais rápida e intensa, após às refeições (por picos). O tratamento com insulina tem o objetivo de imitar o que o pâncreas normal faz e pode ser feito através de injeções (na barriga, coxas ou braços) com duas insulinas diferentes: uma lenta (basal), geralmente uma vez por dia (duração de 24 horas), e uma insulina rápida (bólus) antes de cada refeição (duração de 3-4 horas). Como alternativa às injeções, há dispositivos, designados por “bombas de insulina”, que libertam insulina de forma contínua ao longo do dia, através de uma cânula inserida debaixo da pele. A dose de insulina rápida tem de ser calculada com base na quantidade de hidratos de carbono da refeição e no valor de glicemia, sendo necessário verificar esse valor antes de cada refeição. Isso pode ser feito com medições da glicose por punção do dedo (glicemia capilar) ou através de sensores de monitorização da glicose intersticial. Os sensores são aparelhos pequenos, que se aplicam na parte posterior do braço e medem os valores de glicose de forma contínua, tendo uma duração de 14 dias. Estes sistemas substituem a glicemia capilar, permitindo assim uma vigilância mais cómoda e abrangente da concentração de glicose. 

 

Expansão tecnológica e partilha de informação

Para além das bombas e dos sensores, verifica-se expansão tecnológica a outros níveis. Há, por exemplo, várias aplicações em smartphones para ajuda no cálculo das doses de insulina e na contagem dos hidratos de carbono. Há muita informação disponível para consulta na internet e há vários grupos online de pessoas com diabetes tipo 1 onde é possível tirar dúvidas e partilhar experiências, o que tem sido vantajoso para muitos diabéticos. Atualmente, com os avanços tecnológicos que têm surgido no âmbito da diabetes, o controlo da doença tornou-se mais fácil e, acima de tudo, mais cómodo, permitindo às pessoas com diabetes tipo 1 um estilo de vida mais flexível e com boa qualidade de vida. Para o futuro, são expectáveis mais avanços, com o objetivo de continuar a facilitar cada vez mais o dia-a-dia e ajudar a preservar a saúde das pessoas que convivem todos os dias com esta doença.

Documentos anexos