A prática de exercício físico regular é extremamente importante, pois diminui o risco cardiovascular, permite aumentar a massa muscular e a densidade mineral óssea, ajuda no controlo do peso e contribui para o bem-estar pessoal.
Para além disso, a prática de exercício de físico regular aumenta a sensibilidade à insulina, o que traz benefícios no controle glicémico, no entanto, a curto prazo está associada a riscos quer de hipoglicemia como de hiperglicemia, tanto durante o exercício como horas após o mesmo.
Este folheto tem por objetivo facilitar a gestão da glicemia com o exercício físico na rotina da pessoa com diabetes tipo 1.
Diferentes tipo de exercício físico:
Para um estilo de vida saudável está recomendado a prática de exercício físico pelo menos 3 vezes por semana, o tipo de exercício deve ser escolhido de acordo com a preferência de cada um.
Tipos de exercício:
Aeróbio - caracteriza-se por movimentos que usam grandes grupos musculares de forma rítmica e continuada e com intensidade leve a moderada, como por exemplo correr e saltar a corda.
Anaeróbio - caracteriza-se pelo uso da força muscular de forma rápida e com elevada intensidade, como por exemplo: levantamento de pesos e sprints.
Na realidade, a maioria das atividades desportivas são uma combinação de exercícios aeróbicos e anaeróbicos. Tanto as atividades aeróbicas e anaeróbicas são benéficas para a saúde.
Em pessoas com Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1), a resposta da glicose no sangue ao exercício depende da natureza e da intensidade do exercício.
Geralmente, exercícios aeróbios estão associados a diminuição do valor de glicemia, enquanto os exercícios anaeróbios estão associados a um aumento transitório da glicemia. Ambos podem aumentar o risco de hipoglicemia após o término do exercício.
Os efeitos do exercício variam consideravelmente entre os indivíduos com DM1, mas a mesma pessoa tende a ter respostas consistentes a um determinado tipo e intensidade de exercício.
Figura 1. Variabilidade glicémica em resposta a diferentes tipos de exercício na pessoa com DM1
Gestão da glicemia com o exercício físico
A manutenção da glicose dentro de valores normais durante o exercício é importante para garantir o fornecimento de hidratos de carbono ao músculo e o funcionamento normal do cérebro. Para isso é fundamental o planeamento do exercício físico, a monitorização da glicose frequentemente antes, durante e após o exercício e a avaliação da necessidade de ajustes na insulina e na ingestão extra de hidratos de carbono.
Avaliação da glicemia
Durante o exercício, deve avaliar-se a glicemia a cada 30-60 minutos, assim como no final.
Ajustes na ingestão de hidratos de carbono extra
Avaliação da glicemia antes de iniciar o exercício e ingerir hidratos de carbono de acordo com a tabela abaixo:
Em doentes com monitorização continua da glicose pode entrar-se em linha de conta com as setas de tendência, devendo ser ingeridos ingerir hidratos de carbono de acordo com a tabela abaixo:
Durante o exercício pode haver necessidade de ingerir hidratos de carbono de acordo com o tipo e a duração do exercício físico, e/ou se houve ajuste da insulinoterapia antes do início do exercício. Quando é um exercício programado e se procede às reduções da dose de insulina em antecipação ao aumento da atividade, pode não ser necessária a ingestão adicional de hidratos de carbono para manter valores normais de glicemia.
Se não tiver sido feito nenhum ajuste de insulina prévio ao exercício, pode ser necessário a ingestão de hidratos de carbono extra, entre 15 a 40 gramas por cada 30 minutos de atividade para prevenir a hipoglicemia.
Ajustes na dose de bólus de insulina
Exercício aeróbio
Em pessoas com DM1 sob múltiplas injeções diárias ou bomba perfusora de insulina, quando o exercício ocorre até 3h após uma refeição, a dose de insulina da refeição anterior deverá ser reduzida de acordo com a intensidade e duração do exercício, de acordo com a tabela abaixo:
Percentagem de redução de insulina |
||
---|---|---|
Intensidade do exercício |
30 min |
60 min |
Ligeira |
25% |
50% |
Moderada |
50% |
75% |
Vigorosa |
75% |
75% |
Exercício anaeróbio
A glicemia pode subir pelo que pode ser necessário um bólus adicional de insulina de correção após o exercício. Geralmente, é necessário administrar metade da dose calculada de insulina de correção, após o exercício físico.
Ajustes na dose de insulina basal
Quando se prevê atividade física de intensidade moderada a vigorosa, os doentes com bomba de insulina devem reduzir a taxa de insulina basal 60 a 90 minutos antes do início do exercício de modo a reduzirem o risco de hipoglicemia e a necessidade de ingerir hidratos de carbono extra. A redução da taxa basal deve ser individualizada, pois varia de 20 a 100%, dependendo da intensidade e da duração da atividade.
Quando o exercício ocorre até 3h após uma refeição, a taxa de basal não deve ser reduzida e deve fazer-se apenas o ajuste do bólus da refeição.
Pessoas com DM1 portadoras de bomba perfusora que preferem desconectá-la antes da prática de exercício físico (com duração inferior a 60 minutos) devem administrar um bólus de insulina antes de desconectar a bomba com a dose equivalente à metade da taxa basal que teria sido administrada durante o tempo em que a bomba seria desconectada.
Em pessoas com DM1 sob múltiplas injeções diárias, na noite após a realização de exercício aeróbio ou combinado, a insulina basal administrada antes de se deitar deve ser reduzida em cerca de 20% na noite do dia em que praticou exercício. No caso de ter bomba perfusora de insulina pode programar redução de cerca de 20% da insulina basal, desde a hora de deitar até 6 horas após.
Pode ser necessário a ingestão de hidratos de carbono complexos à ceia, sem administrar o bólus correspondente.
Notas finais
É importante que a própria pessoa conheça a sua resposta individual ao exercício físico, sendo fundamental avaliar a glicemia frequentemente (antes de iniciar; a cada 30-60 minutos durante, no final do mesmo). Caso haja suspeita de hipoglicemia noturna poderá ser prudente avaliar também durante a noite. O plano deve também ser individualizado junto do seu Endocrinologista.