Glândulas e doenças Endócrinas

Diabetes tipo 2

O que é a diabetes mellitus?

É uma doença crónica que se caracteriza por níveis elevados de açúcar (glicose) no sangue. 
A glicose é a principal fonte de energia do organismo e provém dos hidratos de carbono (pão, arroz, massa).
A insulina é uma hormona produzida pelo pâncreas e que permite que a glicose seja absorvida pelas células. A diabetes ocorre quando a insulina produzida não é suficiente ou existe uma resistência à sua atuação – pelo excesso de peso/obesidade.
A diabetes tipo 2 é a forma mais comum (90% dos casos); acomete geralmente pessoas acima dos 40 anos com excesso de peso ou obesidade. 

 

Quais são os sintomas da diabetes?

  • sede excessiva;
  • sensação de fome exagerada;
  • necessidade de urinar frequentemente;
  • perda de peso inexplicada;
  • visão desfocada;
  • cansaço extremo;
  • alterações no humor, como irritabilidade;
  • feridas que demoram a cicatrizar;
  • formigueiros e dormência nas mãos e pés;
  • infeções urinárias de repetição;
  • infeções nos órgãos genitais ou pele (geralmente, causadas por fungos).

 

Como é feito o diagnóstico de diabetes tipo 2?

  • sintomas típicos juntamente com medição de um valor de glicose no sangue (glicemia) superior ou igual a 200 mg/dL;
  • glicemia em jejum superior ou igual a 126 mg/dL, com ou sem sintomas;
  • valor de um parâmetro medido no sangue chamado hemoglobina glicada - superior ou igual a 6,5%;
  • glicemia após 2 horas da ingestão de uma carga de açúcar (a chamada Prova de Tolerância oral à glicose – PTGO) superior ou igual a 200 mg/dL.

A pré-diabetes é uma fase que precede a diabetes: em que existe possibilidade de atuação para evitar a progressão.

 

Quais são os fatores de risco para a diabetes tipo 2?

  •  residência num país desenvolvido: fácil acesso a comida de elevado conteúdo calórico;
  • sedentarismo;
  • aumento da idade;
  • excesso de peso e obesidade: sobretudo se a gordura se acumula no abdómen (a chamada gordura visceral);
  • raça negra, hispânicos e latinos;
  • ter outros elementos na família com diabetes;
  • ter tido diabetes na gravidez (diabetes gestacional).

 

Qual é o tratamento da diabetes tipo 2?

O tratamento pressupõe medidas de estilo-de-vida, medicamentos tomados por via oral ou injetável – nestes últimos, onde se incluí o tratamento com insulina. É importante que se consiga a perda de pelo menos 5 a 10% do peso corporal.

As medidas de estilo-de-vida incluem uma alimentação saudável, que deve ser:

  • pobre em gorduras saturadas (óleos, manteigas, banha, natas), privilegiando as insaturadas (azeite, frutos secos);
  • pobre em açúcares de absorção rápida (bolos, bolachas), que causam um rápido aumento dos níveis de glicose no sangue, privilegiando os de absorção lenta (pão, massa, arroz, aveia, etc);
  • rica em hortícolas, frutas e fibra;
  • ajustada às necessidades energéticas da pessoa.

 

O exercício físico pressupõe 150 minutos semanais de intensidade moderada ou 75 minutos de intensidade intensa, adaptado individualmente e idealmente incluindo treino aeróbio (corrida, caminhada, natação) e anaeróbio (musculação).

Está fortemente recomendada a cessação tabágica.

Com o aumento da duração da diabetes ou se existir um mau controlo, será necessário combinar medicamentos entre si ou iniciar insulina.

 

Como é feita a administração de insulina?

A insulina é administrada, no abdómen ou membros, através de dispositivos semelhantes a canetas, onde se coloca uma pequena agulha que permite a administração através da pele. Devem ser alternados os locais de administração, para evitar o surgimento de lipodistrofias - locais de acumulação anormal de gordura que surgem quando a insulina é aplicada repetidamente no mesmo local ou com a mesma agulha, e que impede a sua correta absorção.

Existem dois tipos de insulina mais utilizados: 

  • insulinas de ação longa (duram 24 horas ou mais): cobrem as necessidades basais diárias de insulina e são geralmente dadas uma vez por dia (sobretudo à noite);
  • insulinas de ação curta (duração: cerca de 4 horas): administradas antes das principais refeições para permitir a absorção da glicose dos alimentos. 

O tratamento com insulina inicia-se quando a pessoa diabética mantém um fraco controlo dos níveis de glicose, com valores de glicémia persistentemente elevados ou hemoglobina glicada superior a 10%.

 

Como se monitorizam os valores de açúcar no sangue (glicemia)?

A monitorização da glicemia está recomendada para os doentes que fazem insulina: permite ajustar a sua dose, a alimentação e a atividade física.
É feita através de uma picada no dedo, praticamente indolor, que colhe uma gota de sangue que é analisada por um aparelho. 
Hoje em dia também está disponível um dispositivo, a ser colocado na face posterior do braço e que mede o valor da glicose nos tecidos – este é apresentado no visor de um aparelho que passa próximo (leitor específico para o efeito ou telemóvel). É trocado quinzenalmente e indicado só se a pessoa fizer várias administrações diárias de insulina.

 

Quais são as complicações da diabetes tipo 2?

Complicações a curto prazo:

  • hipoglicémia (valor de glicemia <70 mg/dL): causada por doses excessivas de insulina, consumo de álcool, exercício físico excessivo, jejum ou certos medicamentos para a diabetes (sulfonilureias). Cursa com tremores, suores frios, palpitações, náuseas, tonturas e fome. Em casos graves, leva ao coma, com risco de vida;
  • síndrome hiperglicémico hiperosmolar: quando o défice de insulina é tão grande que a glicose não é absorvida, acumulando-se no sangue. Acompanha-se de glicemia muito elevada (frequentemente > 700 mg/dL) e de desidratação extrema. Cursa com sede excessiva, necessidade de urinar frequentemente e eventualmente alteração do estado de consciência (com perda dos sentidos ou alteração do comportamento). Pode ter como causas: falha da administração de insulina; uma doença subjacente (infeção, enfarte do miocárdio, trauma ou cirurgia); ou mau controlo da diabetes com necessidade de ajuste terapêutico. Pode exigir admissão hospitalar para tratamento.

 

Complicações a longo prazo (aumentam com a duração e mau controlo da diabetes):

  • mau funcionamento dos rins, que pode culminar em diálise;
  • problemas de visão, com risco de cegueira;
  • perda de sensibilidade nos pés e mãos, com risco de lesões/queimaduras que podem passar despercebidas;
  • feridas nos pés, que podem infetar, originar situações muito graves com risco de amputação;
  • aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC) e enfarte;
  • em casos avançados, pode ocorrer a chamada disautonomia autonómica com enfartamento, vómitos, diarreia, baixa da tensão arterial com tonturas quando a pessoa se levanta ou palpitações no coração em repouso.

 

Que impacto tem a diabetes no dia-a-dia?

A diabetes exige vigilância para o resto da vida (com análises de sangue e de urina, vigilância da tensão arterial, do peso corporal e de lesões nos pés), mas pode ser integrada nas rotinas no dia-a-dia. Quanto mais motivada estiver a pessoa com diabetes para o seu tratamento, melhor será o controlo da doença com menor probabilidade de complicações. 

 

mensagens-chave:

  • Na diabetes tipo 2, as medidas relacionadas com o estilo de vida, devem ser sempre consideradas, nomeadamente o plano alimentar e de exercício físico, bem como, quando necessário, a perda de peso.
  • A metformina é o fármaco utilizado em primeira linha no tratamento da Diabetes Mellitus tipo 2, exceto na presença de contraindicações.
  • Existem vários esquemas de insulina: apenas insulina basal, esquema basal-bólus e esquemas com pré-misturas/ insulinas bifásicas. A escolha do esquema deve ser individualizada.
  • Alguns fármacos, para além do controlo glicémico, têm o potencial para redução do peso. Em determinadas situações estes fármacos podem ainda apresentar benefícios na doença renal ou cardíaca.
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