Glândulas e doenças Endócrinas

Hipogonadismo masculino

O sistema reprodutor masculino tem como propósito fundamental a produção, a nível dos testículos, de hormonas sexuais masculinas (ou androgénios) e espermatozoides. 

O papel dos androgénios (sendo o principal a testosterona) é fundamental para o desenvolvimento e manutenção de algumas características físicas típicas do sexo masculino (como a barba) mas também para estimular a produção de espermatozoides e assegurar uma boa saúde óssea. Os espermatozoides são os gâmetas masculinos e são essenciais para a fertilidade masculina.  

A génese testicular de androgénios e espermatozoides é em grande parte dependente da produção hormonal a nível do hipotálamo e hipófise de GnRH e gonadotrofinas, respectivamente. Existe, assim, um eixo hormonal hipotálamo-hipófise-testículos e em caso de mau funcionamento de alguma das suas partes pode surgir uma situação de perda de função testicular - hipogonadismo. 

O hipogonadismo masculino pode, então, ser definido como os sinais e sintomas resultantes do mau funcionamento dos testículos com insuficiente produção de testosterona. Este síndrome clínico pode ser causado por alterações a nível testicular - hipogonadismo primário - e/ou a nível do hipotálamo e hipófise (que acabam por levar a um mau funcionamento testicular) - hipogonadismo secundário. 

Estima-se que o hipogonadismo masculino possa ocorrer em cerca de 5.6% dos homens com idade entre os 30 e 79 anos.

 

Quais são os sinais e sintomas do hipogonadismo masculino?

As possíveis manifestações clínicas do défice de testosterona sentidas pelo homem são, em parte, dependentes da idade de início da doença. Podem ser resumidas da seguinte forma:

 

Período fetal/perinatal

 

Adolescência

 

Idade adulta

Hipospádias (abertura de uretra na face inferior do pénis)

 

Ausência ou não progressão de alterações da puberdade

 

Diminuição da libido

Micropénis

 

Proporções corporais eunucóides

 

Dificuldades com erecção e menos erecções espontâneas

Criptorquidia (testículos que não desceram para bolsas escrotais)

 

Baixo volume testicular

 

Diminuição de força e massa muscular

 

 

Aumento das mamas

 

Aumento da massa gorda

 

 

 

 

Aumento das mamas

 

 

 

 

Diminuição da massa óssea

 

 

 

 

Infertilidade e baixa contagem de espermatozoides

 

 

 

 

Fadiga

 

 

 

 

Anemia inexplicada

 

 

 

 

Diminuição do volume testicular

 

 

 

 

Diminuição de pelos corporais (púbicos, axilares, barba)

 

 

 

 

“Afrontamentos”

 

Quais são as possíveis causas do hipogonadismo masculino?

Tanto os casos de hipogonadismo primário como secundário podem ter causas adquiridas ou congénitas (desde nascença). 

Causas de hipogonadismo primário congénitas podem incluir alterações genéticas (como o Síndrome de Klinefelter) ou criptorquidia (ou seja, testículos que não desceram para as bolsas escrotais). Algumas das causas adquiridas são infeções e lesões testiculares ou efeitos de quimio e radioterapia.

Relativamente ao hipogonadismo secundário, as causas congénitas são raras e podem incluir vários síndromes genéticos. As causas adquiridas são mais frequentes, por exemplo: utilização de esteroides anabólicos anabolizantes ou opiáceos; lesões/adenomas/tumores hipofisários e hipotalâmicos ou situações com grande défice calórico nutricional e/ou exercício muito intenso – hipogonadismo funcional.

Além destas causas, é importante chamar a atenção de que mesmo em condições normais existe um natural decréscimo dos níveis de testosterona com o avançar da idade devido a diversas adaptações/mudanças do corpo humano durante o envelhecimento. Esta diminuição de testosterona relacionada com a idade, na maioria dos casos e caso excluídas outras causas, não terá indicação para terapêutica com testosterona. A decisão deve ser ponderada cautelosamente caso a caso tendo em conta os sinais/sintomas presentes uma vez que os riscos da administração de testosterona poderão superar os seus benefícios.

 

Como é feito o diagnóstico?

Para realizar o diagnóstico é indispensável que sejam cumpridas ambas as seguintes condições:

  1. Presença de sinais e sintomas de hipogonadismo;
  2. Níveis de testosterona e/ou testosterona livre (apenas útil em algumas situações) sanguíneos consistentemente reduzidos.

Este não é, portanto, um diagnóstico que possa ser feito apenas de acordo com resultados de análises/exames. Também não está indicado a realização “por rotina” de determinações dos níveis de testosterona em homens sem sintomas.

Para determinar a causa do hipogonadismo podem posteriormente ser necessários outros tipos de exames tais como a ecografia escrotal, ressonância magnética da sela turca, espermograma, testes genéticos ou outro tipo de análises ao sangue.

 

Como se trata?

O tratamento mais apropriado dependerá, antes de mais, da causa do hipogonadismo uma vez que o objectivo será, sempre que possível, reverter a causa. 

A prescrição de testosterona está indicada na maioria das situações em que existe défice patológico comprovado e sintomático de testosterona, caso não existam contraindicações. Este tratamento é realizado numa dose e frequência variável dependente de vários factores. Existem em Portugal várias formulações de testosterona aprovadas para o tratamento do hipogonadismo, por via injectável subcutânea e gel transdérmico. 

O acompanhamento médico periódico por um Endocrinologista é essencial para assegurar que a prescriçaõ de testosterona é segura e que o doente recebe a dose adequada ao longo do tempo sem sofrer potenciais efeitos adversos, tais como o eritrocitose (aumento dos glóbulos vermelhos), ginecomastia (aumento das mamas) ou agravamento de doença prostática. Este tratamento é geralmente muito bem tolerado e associa-se a melhoria da maioria dos sintomas de hipogonadismo, tais como: aumento da libido, melhoria do humor, aumento de densidade mineral óssea e aumento da massa muscular.

No caso particular do homem com hipogonadismo com intenção de fertilidade, é importante a discussão das opções de tratamento com o Médico Endocrinologista assistente uma vez que a abordagem terapêutica com testosterona pode ter um impacto negativo na fertilidade e poderão existir outras melhores opções alternativas.

 

mensagens-chave:

  • O hipogonadismo masculino pode ser definido como os sinais e sintomas resultantes do mau funcionamento dos testículos com insuficiente produção de testosterona 
  • O diagnóstico de hipogonadismo masculino não depende só de resultados de exames / análises mas sim também dos sinais e sintomas do homem em questão.
  • Homens a realizar terapêutica de reposição com testosterona deverão sempre ser acompanhados periodicamente por um Médico Endocrinologista    para assegurar que a prescrição de testosterona é segura e que o homem recebe a dose adequada ao longo do tempo sem sofrer potenciais efeitos adverso.
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