Glândulas e doenças Endócrinas

Hirsutismo

O hirsutismo é definido como a presença de pelos terminais na mulher, com um padrão de distribuição corporal masculino. A sua prevalência é de cerca de 4 a 11% na população geral. Quando falamos de pelo terminal falamos de pelo pigmentado e mais grosso. Em mulheres é geralmente encontrado em áreas como sobrancelhas, couro cabeludo, pelos púbicos e axilares. Os pelos terminais também podem estar presentes em pequena quantidade em áreas de distribuição masculina, no entanto quando existem em grande quantidade e em várias localizações deve ser investigado um possível excesso de hormona masculina, chamado hiperandrogenismo. O hirsutismo é diferente da hipertricose em que o crescimento dos pelos ocorre em qualquer área do corpo, com um padrão não sexual  podendo ser hereditário ou associado a doenças ou fármacos.

 

Como se faz o diagnóstico?

Atualmente o método de referência para o diagnóstico e quantificação do hirsutismo é a escala de Ferriman- Gallwey modificada. Esta escala pontua a presença de pelo terminal em 9 áreas do corpo feminino, atribuindo uma pontuação entre 0 e 4 para cada uma das áreas presentes no seguinte esquema:

Uma pontuação igual ou superior a 8 é considerada hirsutismo, existindo vários graus de acordo com a pontuação.

É importante obter uma história clínica detalhada, além da estimativa da presença e da gravidade do hirsutismo de acordo com a escala de Ferriman-Gallwey.  Deve-se avaliar a idade de início e modo de progressão assim como questionar sobre a regularidade dos ciclos menstruais e sintomas de virilização (aparecimento de voz grave, aumento do clítoris e/ou aumento da massa muscular). Em alguns casos é necessária avaliação complementar com análises hormonais e/ou outros exames complementares.

 

Quais as causas do hirsutismo?

O hirsutismo não é uma doença, mas um sinal clínico comum a várias doenças, podendo também estar associado ao uso de alguns fármacos. Estima-se que ocorre por aumento da sensibilidade da pele e/ou produção excessiva de androgénios. Na maioria dos casos, esses dois factores contribuem conjuntamente para o aparecimento do hirsutismo.

A causa mais frequente é o síndrome dos ovários poliquísticos (SOP) correspondendo a cerca de 70% dos casos. É uma doença muito frequente na população com uma prevalência de cerca de 5-10% das mulheres. Para além do hirsutismo é caracterizada por hiperandrogenismo laboratorial e/ou ovários com padrão micropoliquistico e/ou ciclos irregulares. As mulheres com SOP têm também mais prevalência de obesidade, infertilidade, resistência à insulina e aumento do risco cardiovascular.

Relativamente a outras causas de hirsutismo, a hiperplasia da supra-renal representa menos de 5% dos casos sendo uma doença genética que provoca hiperandrogenismo. Já os tumores produtores de androgénios são causas bastante raras de hirsutismo (0,2 a 0,6% dos casos) e podem ter origem ovárica ou da supra-renal, sendo malignos em cerca de 50% dos casos. Deve também ser excluído o hipotiroidismo e o excesso de prolactina, embora sejam causas raras de hirsutismo.

Em cerca de 6-15% das mulheres não é encontrada uma causa chamando-se origem idiopática após exclusão de outras causas.

 

Como tratar o hirsutismo?

O tratamento do hirsutismo inclui medidas cosméticas e tratamento farmacológico. A escolha do tratamento deve focar-se na gravidade do hirsutismo, na causa subjacente e no grau de desconforto gerado na mulher e na sua qualidade de vida. Qualquer terapêutica instituída deverá ser continuada por pelo menos 6 meses (tempo de um ciclo de um folículo piloso) antes de determinar a sua eficácia. Caso não haja resposta satisfatória, pode-se aumentar a dose, substituir ou usar terapêutica combinada.

Métodos cosméticos:

  • Descoloração
  • Depilação com cera/ creme depilatório ou lâmina
  • Electrolise
  • Fotodepilação
  • Laser

Métodos farmacológicos mais utilizados:

  • Contraceptivos combinados
  • Antiandrogenios - fármacos que bloqueiam a produção ou ação das hormonas masculinas
  • Creme tópico que desacelera o crescimento do pelo.

Existem outros tipos de tratamentos farmacológicos utilizados em situações mais raras. Importa realçar que sendo o SOP a causa mais frequente de hirsutismo, as medidas de estilo de vida assumem especial importância nomeadamente uma alimentação equilibrada e exercício físico regular com controlo do peso corporal.

Na maioria dos casos o hirsutismo não resulta de doença grave e clinicamente não tem outras consequências, mas exerce um forte impacto negativo na autoestima e qualidade de vida das mulheres e desta forma deve ser valorizado e investigado.

 

Frases chave:

  • O hirsutismo é definido como a presença de pelos pigmentados e grossos na mulher, com um padrão de distribuição corporal masculino.
  • A sua prevalência é de cerca de 4 a 11% na população geral.
  • O hirsutismo não é uma doença, mas um sinal clínico comum a várias doenças.
  • A causa mais frequente de hirsutismo é o síndrome dos ovários poliquísticos (SOP) correspondendo a cerca de 70% dos casos.
  • Na maioria dos casos o hirsutismo não resulta de doença grave e clinicamente não tem outra consequência.