O que é a suprarrenal?
A suprarrenal é uma glândula, ou seja, um orgão do corpo humano que é capaz de produzir hormonas. Cada pessoa tem duas suprarrenais, uma à direita e outra à esquerda, localizadas no polo superior de cada um dos seus rins e cuja dimensão não ultrapassa os 5 cm. Cada uma destas glândulas contém dois tipos de tecido, o córtex e a medula envolvidos por uma cápsula fibrosa.. Os nódulos que se desenvolvem no córtex designam-se por adenomas suprarrenal. Por sua vez, os que ocupam a medula, são designados por feocromocitoma.
O que são nódulos da suprarrenal?
Os nódulos da suprarrenal são alterações morfológicas do parênquima da glândula, na sua grande maioria assintomáticos (não provocam sintomas), têm mais de 1 cm, e são detetados através de exames de imagem (tomografia computorizada “TC” ou ecografia abdominal). A designação de “Incidentalomas da Suprarrenal” advém do facto de muitos destes nódulos serem detetados por exames de imagem não direcionados ao estudo da suprarrenal, isto é, pedidos por suspeita ou para o esclarecimento de outra patologia abdominal.
Qual é a prevalência dos nódulos da suparrenal?
Estudos em autópsias, bem como exames de imagens da suprarrenal em pessoas assintomáticas apontam para uma prevalência de nódulos entre 1-7%, sendo esta incidência maior na faixa etária dos 60 aos 80 anos.
Os nódulos da suprarrenal são malignos?
Em apenas uma pequena percentagem dos casos (<1%), estes nódulos podem ser carcinomas da glândula suprarrenal (logo, tumores malignos), ou metástases de tumores malignos primitivos de outros órgãos do corpo humano, como os rins, estômago ou o pulmão. Estes tumores podem produzir hormonas ou manifestarem-se apenas por queixas compressivas provocadas pela sua dimensão.
Como é que é possível saber se o nódulo da suprarrenal produz hormonas?
Na abordagem inicial de um nódulo da suprarrenal interessa perceber se o nódulo é funcionante (produz hormonas) ou se é não funcionante (não é capaz de produzir hormonas). Neste sentido, o seu médico pode solicitar um conjunto de análises do sangue e/ou da urina (que pode incluir a colheita de urina durante o período de 24 horas) e exames de imagem específicos.
Os resultados desta investigação laboratorial são habitualmente os seguintes:
- 85% dos nódulos são não funcionantes
- 15% são funcionantes
- 9% produzem cortisol
- 4% produzem catecolaminas
- 2% produzem aldosterona
- <1% produz hormonas sexuais
Que exames de imagem são necessários para avaliar um nódulo da suprarrenal?
A avaliação de um nódulo da suprarrenal pode ser realizada com uma variedade de exames, incluindo ecografia, tomografia axial computorizada (TC), ressonância magnética (RM) ou mais raramente, a tomografia por emissão de positrões (PET-CT). A TC permite criar imagens reformatadas em vários planos, sendo o método mais disponível e eficaz de obter imagens das glândulas suprarrenais, permitindo a caracterização adequada de eventuais nódulos. Na investigação de um nódulo de grandes dimensões, a ecografia e a RNM são os exames mais comumente utilizados, principalmente quando a relação do nódulo com o rim, ou com outros órgãos ou vasos necessita ser melhor esclarecida.
A PET-CT tem um papel mais limitado e específico na avaliação das lesões nodulares da glândula suprarrenal, e não é um exame pedido por rotina.
Se o nódulo da suprarrenal produzir hormonas, quais são os sintomas mais comuns?
Como referimos anteriormente, na maior parte das vezes os nódulos da suprarrenal não causam nenhum sintoma. Os nódulos assintomáticos são na maioria dos casos não funcionantes. No entanto, mesmo sem provocar sintomas, estes nódulos podem produzir hormonas em excesso, justificando o aparecimento ou agravamento de doenças pré-existentes, como hipertensão arterial, diabetes ou obesidade, que podem ser diagnosticadas e tratadas anos antes da descoberta do nódulo da suprarrenal.
Por este motivo, além de uma história clínica e de um exame físico detalhados, o seu médico poderá solicitar uma avaliação analítica específica para determinar se há produção excessiva de hormonas, como cortisol, aldosterona ou catecolaminas.
A secreção autónoma de cortisol está presente em 10% das pessoas que têm nódulos da suprarrenal. Pode justificar sintomas como nódoas negras fáceis, estrias roxas no abdómen e coxas, excesso de peso ou obesidade, hipertensão arterial, acne, hirsutismo (excesso de pelo corporal), diabetes mellitus tipo 2 e baixa massa óssea (osteopenia/osteoporose).
Caso a hipertensão arterial já exista previamente à descoberta do nódulo da suprarrenal, devem realizar-se análises específicas para excluir a possibilidade de este nódulo estar a produzir aldosterona em excesso. A esta condição, dá-se o nome de Hiperaldosteronismo primário. Quando produzida em excesso, a aldosterona vai ser responsável por uma acumulação de sal e água no corpo, produzindo ou agravando a hipertensão arterial.
No que diz respeito ao feocromocitoma, embora possa ser diagnosticado de forma incidental, muitas vezes com a colheita rigorosa da história clínica do doente, é possível encontrar queixas compatíveis com os sinais e sintomas clássicos deste tumor, nomeadamente dores de cabeça, suores e palpitações cardíacas, hipertensão e palidez facial, que surgem de forma espontânea e autolimitada.
Em situações em que os nódulos são incipientes ou bilaterais, pode haver necessidade de cateterizar as veias suprarrenais e verificar se há uma assimetria na libertação das hormonas, indicando mais claramente qual a origem da produção excessiva de uma determinada hormona. Esta técnica é habitualmente realizada em centros com elevada experiência em doenças da suprarrenal.
Como se trata o nódulo da suprarrenal? Pode manter-se apenas vigilância?
O tratamento deve ser individualizado de acordo com a idade do doente, com as suas comorbilidades e preferências. Na generalidade dos casos, se o nódulo da suprarrenal demonstrar ser funcionante, o tratamento pode passar pela toma de medicação específica para reduzir a produção hormonal ou por uma abordagem cirúrgica, para o retirar.
Se o nódulo não for funcionante, se apresentar pequenas dimensões e características benignas nos exames de imagem, deve manter-se apenas vigilância de sinais ou sintomas que possam indicar excesso de produção hormonal. Se não foi documentada qualquer produção de hormonas, mas o nodulo é grande (> 4 cm) e tem achados radiológicos específicos, a abordagem mais consensual é tratar cirurgicamente, embora possa ser considerada a hipótese de vigiar o seu crescimento através de exames de imagem nos 6 a 12 meses seguintes. Nódulos > 6 cm devem ser tratados cirurgicamente pela abordagem clássica e não por laparoscopia.
Bibliografia:
- Kebebew E; Adrenal Incidentaloma, N Engl J Med 2021; 384:1542-51;
- Jameson L, Garrot L; Endocrinology Adult and Pediatric Seventh Edition; Cap 108; Elsevier;2015