A tiroide é um pequeno órgão em forma de borboleta localizado na parte anterior do pescoço. Não obstante o seu tamanho, apresenta um papel fulcral no metabolismo, crescimento e desenvolvimento do corpo humano, através da produção de hormonas tiroideias (T3 e T4).
A libertação destas hormonas está dependente de uma glândula endócrina, a hipófise, localizada a nível cerebral, e responsável pela produção de TSH (ou hormona estimulante da tiroide). A maior ou menor produção desta hormona, conforme a necessidade, dita a maior ou menor produção de hormonas tiroideias, respetivamente.
Por vezes são detetados na tiroide, quer através do exame físico, quer em exames de imagem, áreas de crescimento anómalo, ou nódulos. A presença destas lesões é muito comum na população geral e, embora a maioria corresponda a achados incidentais, assintomáticos e benignos, numa porção reduzida dos casos podem representar um carcinoma, razão pela qual devem ser avaliados atempadamente por um profissional de saúde. Entre alguns achados que nos devem alertar para a presença destas lesões encontram-se massas cervicais, adenopatias, sintomas de rouquidão, disfagia (dificuldade em engolir) e alterações sugestivas de hiper ou hipotiroidismo.
Existem alguns fatores inerentes ao doente que podem prever um maior risco de malignidade do nódulo. Entre eles estão a exposição a radiação da cabeça e do pescoço, com especial importância se ocorrer em idades jovens, casos familiares de carcinoma da tiroide ou certas síndromes presentes em familiares de 1º grau que incluem patologia maligna da tiroide, crescimento acelerado do nódulo e sintomas compressivos ou infiltrativos (por ex., rouquidão).
Na avaliação inicial de um nódulo da tiroide, recomenda-se como primeiro passo a análise da TSH, que pode ser facilmente medida numa amostra sanguínea.
- Se TSH diminuída: recomenda-se a realização de uma cintigrafia. Neste exame de imagem, é administrada uma pequena quantidade de iodo, avaliando-se de seguida a quantidade que é absorvida pelo nódulo, e a quantidade que é absorvida pelo tecido envolvente. Este exame ajuda-nos a distinguir nódulos hiperfuncionantes (“quentes”), de nódulos isofuncionantes ou não funcionantes (“frios”). Esta distinção é importante porque nódulos “quentes” raramente apresentam malignidade.
- Se TSH normal ou elevada: estão indicadas a ecografia (se ainda não realizada) e eventual biópsia.
A ecografia está recomendada em todos os doentes com suspeita de nódulo tiroideu. Este exame é essencial para determinar o risco de malignidade de um nódulo e decidir o próximo passo a tomar, quer este seja dar por terminada a investigação, manter a vigilância ou usar métodos mais invasivos para melhor esclarecimento.
Com a avaliação ecográfica é possível dividir os doentes em 5 categorias da classificação EU-TIRADS:
- EU-TIRADS 1 - Se não se encontrarem nódulos.
- EU-TIRADS 2 - Benignidade (risco de malignidade perto de 0%): não há indicação para biópsia.
- EU-TIRADS 3 - Baixo risco (risco de malignidade 2-4%): indicação para biópsia se o nódulo for >2cm.
- EU-TIRADS 4 - Risco intermédio (risco de malignidade 6-17%): indicação para biópsia se o nódulo for >1,5cm.
- EU-TIRADS 5 - Alto risco (risco de malignidade 26-87%) – indicação para biópsia se o nódulo for >1cm; Se <1cm, e tendo em conta algumas outras características, pode decidir-se em conjunto com o médico, entre biópsia ou vigilância ativa.
A ecografia pode, assim, indicar a realização de uma biópsia para uma avaliação mais completa. A Biópsia de Agulha Fina, usada nestes casos, consiste num exame simples, rápido e minimamente invasivo, cujo objetivo é obter diretamente do nódulo uma amostra, com uma pequena agulha, de forma a melhor caracteriza-lo.
Como mencionado previamente, a maioria dos nódulos corresponde a alterações benignas, sem significado clínico. Nos casos em que nos deparamos com lesões malignas, estas são frequentemente passíveis de serem tratadas. Para que tal seja possível, é essencial recorrer atempadamente a um profissional de saúde para uma avaliação e seguimento adequados, logo que haja suspeição da presença de um nódulo tiroideu.
Referências bibliográficas:
- InformedHealth.org [Internet]. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG); 2006-. How does the thyroid gland work? 2010 Nov 17 [Updated 2018 Apr 19]. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279388/
- Popoveniuc, et al., “Thyroid nodules.” The Medical clinics of North America vol. 96,2 (2012): 329-49. doi:10.1016/j.mcna.2012.02.002
- Haugen BR, et al., 2015 American Thyroid Association Management Guidelines for Adult Patients with Thyroid Nodules and Differentiated Thyroid Cancer: The American Thyroid Association Guidelines Task Force on Thyroid Nodules and Differentiated Thyroid Cancer. Thyroid. 2016 Jan;26(1):1-133. doi: 10.1089/thy.2015.0020. PMID: 26462967; PMCID: PMC4739132.
- Russ G, et al., European Thyroid Association Guidelines for Ultrasound Malignancy Risk Stratification of Thyroid Nodules in Adults: The EU-TIRADS. Eur Thyroid J. 2017 Sep;6(5):225-237. doi: 10.1159/000478927. Epub 2017 Aug 8. PMID: 29167761; PMCID: PMC5652895.
- Sigmon DF, Fatima S. Fine Needle Aspiration. [Updated 2021 Apr 3]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557486/