O que é um sistema integrado vulgarmente conhecido por pâncreas artificial?
O sistema integrado é a forma de administração de insulina que melhor reproduz a secreção de insulina fisiológica de um pâncreas, sendo por isso vulgarmente conhecido por pâncreas artificial.
Um sistema integrado ou um pâncreas artificial pressupõe a utilização de 3 componentes:
- Bomba infusora de insulina. Aconselhamos a leitura do tema “Bombas infusoras de insulina”, se quiser conhecer a constituição de uma bomba infusora de insulina.
- Monitorização contínua da glicose em tempo real. Se quiser saber mais sobre a constituição e o modo de funcionamento deste tipo de sistema, por favor, consulte a seção “Monitorização contínua da glicose”.
- Algoritmo. O algoritmo é um programa de computador (software) complexo. Este é o verdadeiro elemento integrador, o cérebro deste tipo de sistema. Recebe e processa a informação da monitorização da glicose em tempo real, informando a bomba infusora de insulina qual deve ser a dose de insulina a administrar.
Como funciona um sistema integrado?
Os sistemas integrados têm diferentes níveis de automatização. Até ao momento, nenhum dos sistemas é completamente automático, o que significa que existe necessidade de alguma intervenção por parte da pessoa com diabetes na gestão da sua doença no dia-a-dia.
Os sistemas integrados podem ser classificados em:
- Sistemas abertos. Neste tipo de sistema, a bomba infusora de insulina administra de forma contínua uma quantidade pré-definida de insulina (débito basal) ao longo das 24 horas e permite, também, administrar quantidades maiores de insulina para cobrir as refeições e, sempre que for necessário, para correção de hiperglicemia (bólus de insulina). Este tipo de funcionamento é igual a uma bomba infusora de insulina. A diferença reside na existência de um algoritmo, que recebe os dados da glicose obtidos através da utilização de um sensor e, perante a deteção de hipoglicemia ou previsão da mesma, interrompe automaticamente a perfusão de insulina (débito basal e qualquer bólus em curso) e retoma também de forma automática o débito basal, decorrido o período máximo de suspensão, ou assim que o algoritmo entende que o risco de hipoglicemia foi eliminado.
- Sistemas fechados. Neste tipo de sistema, a bomba infusora de insulina adapta automaticamente o débito basal ao longo das 24 horas, de acordo com as indicações fornecidas pelo algoritmo. Este algoritmo recebe os dados da glicose obtidos através da utilização de um sensor e tem capacidade de indicar à bomba infusora de insulina:
a) qual deve ser o débito basal ao longo das 24h com o objetivo de manter o seu valor de glicose no seu alvo, que pode ser configurado entre os 100 e os 120mg/dl, e
b) a realização de bólus de correção sempre que o algoritmo deteta hiperglicemia e entende que tal é necessário.
Contudo, em ambos os sistemas continua a ser necessário informar o algoritmo sempre que se vai alimentar, indicando a quantidade de hidratos de carbono ingeridos, para que o sistema determine, de acordo com a sua relação insulina:hidratos de carbono pré-programada, qual a dose de insulina necessária para a refeição. Quanto mais preciso for na contagem de hidratos de carbono, melhores resultados obterá!
Também é importante notar que à medida que o nível de automatização vai aumentando, o seu papel na gestão da sua doença no dia-a-dia vai sendo menor. Para que obtenha os melhores resultados com este tipo de sistema tem de aprender a confiar no algoritmo. Vejamos um exemplo prático. É natural que quando observa uma seta de descida com uma leitura próximo da normalidade, se alimente para prevenir a hipoglicemia. Mas a partir do momento em que comece a utilizar um sistema integrado, na mesma situação, precisará de confiar que o sistema será capaz de perceber que existe um risco de hipoglicemia e que conseguirá preveni-la sem a sua ajuda. Se mantiver o comportamento defensivo, nesta circunstância, irá aumentar o seu risco de hiperglicemia.
Os sistemas integrados estão disponíveis em Portugal?
Sim, estão disponíveis dois sistemas integrados, um sistema aberto e um sistema fechado. É importante notar que o sensor para medição da glicose a utilizar com este tipo de sistema, embora disponível, não se encontra ainda comparticipado no nosso país.
A utilização de um sistema integrado é segura?
Sim, a utilização de um sistema integrado é comprovadamente segura.
Os riscos inerentes à utilização de um sistema deste tipo são essencialmente os mesmos da utilização de uma bomba infusora de insulina, nomeadamente, a cetoacidose diabética e a infeção ou reação alérgica no local de colocação da cânula. Por isso, deve fazer-se acompanhar sempre das canetas de insulina e conhecer os protocolos de segurança. É também importante que higienize as mãos e o local de inserção da cânula sempre que troque o conjunto de infusão, que promova a rotação dos locais onde coloca a cânula e que respeite as recomendações relativas à troca do conjunto de infusão e reservatório. Deve também inspecionar diariamente a pele e se detetar alguma vermelhidão deve substituir o conjunto de infusão.
Os inconvenientes da utilização de um sistema integrado são também os mesmos da utilização de uma bomba infusora de insulina e de um sistema de monitorização da glicose, nomeadamente, a necessidade de manter dois dispositivos conectados permanentemente ao corpo e da existência de alarmes que, em algumas circunstâncias, podem conduzir a situações de cansaço. Se este for o seu caso, reveja com a sua equipa de saúde a sua configuração dos alarmes. Além disso, é importante não esquecer que, mesmo no sistema fechado, será responsável por indicar ao sistema qual a quantidade de hidratos de carbono que vai ingerir sempre que lhe apetecer comer.
Quais as principais vantagens dos sistemas integrados comparativamente com as bombas infusoras de insulina vulgares?
Apesar do sistema aberto não ter praticamente nenhum impacto no controlo da hiperglicemia, é um sistema eficaz na prevenção dos episódios de hipoglicemia, sendo muito útil em doentes com história de hipoglicemias graves e/ou insensibilidade às hipoglicemias.
Por outro lado, o sistema fechado é eficaz na redução simultânea do tempo passado em hipoglicemia e em hiperglicemia e, por conseguinte, aumentando o tempo que passa no intervalo-alvo e reduzindo a sua variabilidade glicémica. A utilização de um sistema integrado fechado é uma mudança de paradigma no tratamento da diabetes tipo 1, porque melhora o seu controlo glicémico, ao mesmo tempo que reduz o seu trabalho no dia-a-dia na gestão da diabetes.
Estamos expectantes quanto ao desenvolvimento de sistemas integrados com maior grau de automatização e, assim, próximos do verdadeiro pâncreas artificial.