Glândulas e doenças Endócrinas

Tiróide

O que é?

A tiróide é uma glândula endócrina, aproximadamente do tamanho de uma ameixa, sendo dividida em duas metades (os dois lobos da tiróide), que se encontram ligadas entre si por uma “ponte” de tecido tiroideu (o istmo). 

 

Onde está?

Localiza-se na região cervical anterior e inferior (por baixo da “maçã-de-adão”), em estreita relação com várias estruturas nobres como a traqueia, o esófago e a bainha carotídea.

 

Qual a sua importância?

Existe em todos os animais vertebrados, sendo no ser humano responsável pelo controlo da taxa metabólica e de várias outras funções vitais do organismo, como a cardíaca, a muscular, a digestiva e a cerebral. Tem, também, um papel importante na reprodução, no crescimento e no desenvolvimento ósseo, bem como, na regulação da temperatura corporal.

Para esse efeito, produz e secreta 2 hormonas (T3 e T4) diretamente para a corrente sanguínea - o que a define como glândula endócrina.

 

Que doenças lhe estão associadas?

De uma forma geral, a tiróide pode associar-se a dois grandes tipos de problemas: funcionais e estruturais (que podem ocorrer em simultâneo).

Diz-se que existe disfunção tiroideia quando a tiróide produz hormonas a mais (hipertiroidismo) ou a menos (hipotiroidismo) com as consequências que se mencionarão adiante. O tratamento geralmente é médico (p.ex. comprimidos).

A doença nodular da tiróide é o problema estrutural mais frequente e um dos principais motivos de referenciação para consulta de Endocrinologia. O tratamento, quando e se indicado, é geralmente cirúrgico.

 

O que é o hipertiroidismo?

É uma forma de disfunção tiroideia em que existe produção de hormonas em excesso. É mais prevalente em mulheres e a sua causa mais frequente é auto-imune (doença de Graves). Outras causas são: os nódulos tóxicos, certos medicamentos e a sobrecarga oral de iodo, especialmente em zonas de carência do mesmo. Clinicamente manifesta-se com diminuição do peso, tremor, insónia, agitação, alterações menstruais e do trânsito intestinal (p. ex. diarreia). Podemos também encontrar alterações da tensão arterial e aumento da frequência cardíaca ou arritmias, que em casos extremos e raros podem condicionar uma situação clínica grave a que se dá o nome de tempestade tiroideia.

Analiticamente observamos aumento das hormonas tiroideias em circulação (T3 e T4) e diminuição dos valores de uma hormona produzida pela hipófise (pequena glândula endócrina localizada abaixo do cérebro) chamada tireoestimulina (TSH).

Mais frequentemente, o tratamento passa pela toma de fármacos que reduzem a síntese das hormonas tiroideias e, consequentemente, a sua concentração na corrente sanguínea e a sua acção nos vários órgãos.

Em alguns casos, pode ser necessária cirurgia ou tratamentos com iodo radioactivo. 

 

O que é o hipotiroidismo?

É uma forma de disfunção tiroideia em que existe produção insuficiente de hormonas tiroideias.

Pode ser primário (quando a origem do problema é a própria tiróide) ou central (quando existe diminuição do estímulo pela hipófise ou o hipotálamo). Tal como o hipertiroidismo, é mais comum na mulher e a sua principal causa é auto-imune (doença de Hashimoto). Outras causas são o estado pós-cirurgia de remoção da tiróide, alguns medicamentos e doenças congénitas (presentes à nascença).

O indivíduo pode estar assintomático ou apresentar sintomas. Os mais comuns são o cansaço, em repouso ou com esforços ligeiros, depressão, sonolência, obstipação, intolerância ao frio, alterações menstruais e o aumento discreto do peso. Sinais que podem ocorrer são a diminuição da tensão arterial, diminuição da frequência cardíaca, unhas e cabelo quebradiços e inchaço dos membros inferiores. Em casos graves mas raros pode levar ao coma. 

Analiticamente, o mais habitual é observarmos diminuição da concentração das hormonas tiroideias e o aumento dos valores de TSH (no hipotiroidismo primário).

Quanto ao tratamento, passa pela toma oral de hormona sintética semelhante ao T4 – levotiroxina. Deve ser ingerido um comprimido em jejum pelo menos meia hora antes da ingestão de alimentos ou outros medicamentos. A reavaliação analítica para confirmar a eficácia da medicação deverá ser feita pelo menos 6 a 8 semanas após o início do tratamento ou de uma alteração de dose.

O que é a doença nodular da tiróide?

Quando ocorre o crescimento anormal de uma região de tecido tiroideu, com ou sem o aumento da tiróide (bócio), fala-se em doença nodular da tiróide. Esta pode ser uni ou multinodular e é a das situações mais frequentes que levam um individuo a procurar o Endocrinologista.

Isto deve-se à conjugação de três factores, 1) à frequência de aparecimento de queixas inespecíficas a nível do pescoço/garganta, 2) à acessibilidade da ecografia cervical e a 3) à prevalência de nódulos da tiróide na população geral, que pode chegar a 75%, sendo marcadamente mais frequente na mulher do que no homem.

Na grande maioria dos casos (mais de 95%) estes nódulos são benignos e, como tal, a não ser que atinjam grandes dimensões, não irão colocar quaisquer problemas à saúde. Por outro lado, a maioria destes nódulos não seria detetada na palpação do pescoço ou sentida pelo doente.

No entanto, os nódulos podem ser malignos (cancro) e/ou atingir dimensões que acarretem compromisso às estruturas vizinhas à tiróide (bócio compressivo), pelo que, na presença de determinadas características clínicas e ecográficas, ou existindo dúvida relativamente às mesmas, o endocrinologista deverá intervir

A doença nodular da tiróide pode manifestar-se com a presença de um inchaço no pescoço abaixo da “maçã-de-adão”. Pode produzir a sensação de existir algo “a mais” no pescoço, que cause impressão em alguns movimentos do pescoço, associada ou não a dificuldade em engolir e a alterações da voz mas, raramente, provoca dor, dificuldade em respirar ou tosse. Pode existir isoladamente, associado a hipotiroidismo ou a hipertiroidismo. 
Quando a causa é um carcinoma (cancro da tiróide), para além da cirurgia, poderá ser indicado um tratamento adicional com iodo radioactivo.

 

Quem pode ser afetado?

Estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas no mundo todo apresentem algum tipo de problema na tiróide. Estes poderão acometer indivíduos de todas as idades e etnias, sendo até 8 vezes mais frequente na mulher do que no homem.
Há algo que se possa fazer para evitar ter problemas na tiróide?
Conhece-se uma relação entre a presença (ou ausência) de iodo na alimentação e a doença tiroideia. No entanto, a sua suplementação fora da dieta, não é recomendada, na população em geral, e poderá causar um excesso de iodo que potencialmente terá um efeito nefasto e provocará disfunção tiroideia. Poderá ser recomendada na grávida e em algumas situações muito particulares.

De um modo geral, desconhece-se o motivo pelo qual se desenvolvem, inicialmente, os problemas na tiróide. Uma alimentação saudável, com a presença de peixes de alto mar e a opção pelo sal iodado poderá ser benéfica a título genérico.
Associa-se a outras doenças?
Existe uma associação entre os problemas na tiróide e a diabetes, na medida em que a presença de qualquer um deles confere ao doente um maior risco de desenvolver o outro.

De facto, essa relação é particularmente relevante no caso da diabetes tipo 1, uma doença auto-imune, sabendo-se que a presença de uma alteração deste tipo torna mais provável o desenvolvimento de outras de origem semelhante. Deverá ser feita uma avaliação da função tiroideia aquando do diagnóstico e, posteriormente, com alguma regularidade. Por outro lado, na presença de doença auto-imune da tiróide deverá ser pesquisada ocasionalmente a presença de diabetes.

Para a diabetes tipo 2 o risco é menor e a causa não está tão bem estabelecida. Ainda assim, é mais provável o desenvolvimento de problemas na tiróide ao longo da vida.

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