A glândula tiróide é uma glândula endócrina em forma de borboleta que se localiza na parte frontal inferior do pescoço. A sua função é produzir hormonas que são transportadas para as células e tecidos do corpo, ajudando-o a utilizar a energia na regulação da temperatura corporal e no funcionamento de órgão vitais, como o cérebro, coração, músculos e todos os outros órgãos.
O que é uma tiroidite?
Tiroidite é um processo inflamatório que causa um dano na glândula tiroide, que pode ser permanente ou não.
O que é a tiroidite pós-parto?
É uma forma de tiroidite temporária, que ocorre nos primeiros 6 meses após o parto, particularmente em mulheres com presença de anticorpos anti-tiroideus positivos (anti-peroxidase da tiróide [anti-TPO]).
Quais são os fatores de risco para o seu aparecimento?
Doenças auto-imunes (como a Diabetes tipo 1);
Anticorpos anti-tiroideus positivos (quanto maior o título de anticorpos anti-TPO, maior o risco);
Antecedente pessoal e/ou familiar de disfunção tiroideia;
Antecedente de tiroidite pós-parto em gravidez anterior (20% das mulheres desenvolvem uma nova tiroidite).
Qual a sua causa?
A causa exata é desconhecida, mas acredita-se que resulte dum processo similar ao que acontece noutra forma de tiroidite mais comum, que é a tiroidite de Hashimoto. Tal como nesta, a tiroidite pós-parto associa-se à presença de auto-anticorpos tiroideus (anti-TPO e anti-tireoglobulina [anti-Tg]). Os anti-corpos são armas de defesa do organismo. Neste caso, estes entram num processo de auto-destruição, atacando as células da tiroide como se estas fossem estranhas ao organismo.
Quais são os seus sintomas?
Mais frequentemente, a glândula tiróide pode aumentar de volume, sem dor associada. De forma típica, mas menos frequente, podem decorrer sintomas de libertação excessiva de hormonas da tiroide - tireotoxicose (ansiedade, irritabilidade, palpitações, insónia, fadiga, perda de peso, tremor fino, intolerância ao calor) que geralmente duram entre 1 a 4 meses após o parto, seguidos de sintomas de hipotiroidismo (falta de hormonas da tiroide - sonolência, aumento de peso, intolerância ao frio, obstipação, pele seca, depressão e baixa tolerância ao exercício físico) 4 a 8 meses após o parto. O hipotiroidismo tem duração aproximada de 9 a 12 meses, embora em 20% dos casos se possa tornar permanente. Nem todas as mulheres passam por ambas as fases. Aproximadamente 1/3 apresentam ambas as fases, enquanto 1/3 terão apenas uma fase tireotóxica ou uma fase hipotiroideia, sendo esta última ligeiramente mais comum.
A fase tireotóxica da tiroidite pós-parto é frequentemente confundida com a ansiedade em contexto da maternidade, no decorrente de mudanças logísticas, aliada ao stress emocional. Por este motivo, passa frequentemente despercebida.
Como se diagnostica?
Através das queixas apresentadas e do exame físico do pescoço (tiróide aumentada de volume), análises (testes da função tiroideia e anticorpos anti-tiroideus). É importante a distinção com a Doença de Graves (em que há uma verdadeira produção exagerada de hormonas pela tiróide), através do doseamento dos anticorpos anti-receptor da TSH (TRABs).
Como se trata?
Em casos ligeiros, não será necessário qualquer tratamento, uma vez que pode rapidamente entrar em remissão. O tratamento com medicação anti-tiroideia – tionamidas - não está indicado na fase tireotóxica, uma vez que a glândula tiróide não se encontra em hiperfunção. Para alívio dos sintomas de hipertiroidismo ou hipotiroidismo, pode ser prescrito um bloqueador beta-adrenérgico ou suplementação com levotiroxina, respetivamente. Nenhum dos tratamentos interfere no processo de amamentação. À medida que a mulher entra em remissão sintomática da tireotoxicose, o bloqueador beta-adrenérgico pode ser suspenso. De igual forma, após 6 a 9 meses, deve ser tentada a suspensão da levotiroxina, uma vez que em 80% destas mulheres a função tiroideia normaliza e acabam por não necessitar de tratamento crónico.
Qual o seu prognóstico?
A maior parte das mulheres recupera de forma completa e não necessita de tratamento. O hipotiroidismo habitualmente resolve em 6 a 12 meses. Se não resolver no decorrer deste período, a paciente deverá manter a toma da levotiroxina de forma permanente. A tiroidite pós-parto geralmente recidiva em gestações posteriores, pelo que é necessário dosear a função tiroideia, cerca de 2 a 3 meses após cada nascimento. Uma vez que a tiroidite pós-parto aumenta o risco de disfunção tiroideia no futuro, é aconselhável fazer o doseamento das hormonas da tiróide anualmente através de uma análise ao sangue.