Em 2021, a comunidade científica celebra o centenário da descoberta da insulina, por Banting e Best, após anos de investigação e envolvimento de múltiplos cientistas.
Em 1921 a insulina foi utilizada em animais (cão) e em 1922 em pessoas com diabetes tipo 1. Durante estes 100 anos, assistimos a várias modificações da molécula de insulina, com vista à sua purificação, redução da antigenicidade e variação e duração de ação. Após 60 anos de insulina de extração animal, é nos últimos 40 anos uma hormona recombinante, que possibilitou a produção de análogos de ação rápida e longa com adaptação ao perfil de tratamento desejado e redução das hipoglicemias. Mais recentemente surgiram biossimilares, com o benefício de preço mais competitivo. Muito se melhorou nos dispositivos de administração. Das seringas às “canetas” na maioria pré-cheias e às “bombas” de perfusão de insulina em circuito aberto, com ou sem sensor acoplado. A tecnologia avança rapidamente com os sistemas híbridos “closed-loop”, que começam a ser comercializados, permitindo através de sensores e algoritmos determinar ao longo do dia, a quantidade de insulina necessária à pessoa com diabetes. Aguarda-se para breve a comercialização dos sistemas duais, com insulina e glucagon ou amilina, que dispondo igualmente de sensores e algoritmos, têm o benefício prevenirem a hipoglicemia.
Com vista a reduzir o número de injeções/dia e os efeitos adversos, espera-se para breve o lançamento da insulina basal semanal (icodec) e futuramente as “smart” insulinas ou insulinas sensíveis a glucose, que permitirão que a insulina injetada fique num reservatório seja lançada na circulação de acordo com os níveis glicémicos. Novas vias de administração, oral e adesivos, continuam em investigação.
Passaram 100 anos, desde que a insulina injetada ao jovem Thompson em 1922, lhe salvou a vida. Os resultados destes 100 anos, têm sido muito positivos para as pessoas com diabetes. Inúmeras vidas se salvaram, a esperança de vida aumentou e as complicações reduziram-se. Mas o crescimento exponencial do número de pessoas com diabetes, o aumento das necessidades em insulina, os custos da sua produção e os preços do mercado, têm gerado outro tipo de problemas, a dificuldade de acessibilidade da população mundial à insulina, nomeadamente nos países em vias de desenvolvimento e até em países ricos sem Serviços de Saúde. Portugal tem sido exemplar e desde há muito que a insulina e os dispositivos de administração são gratuitos para as pessoas com diabetes.
No sentido de facilitar essa acessibilidade, várias organizações a nível mundial (OMS, ADA, IDF. EASD, Endocrine Society), têm-se empenhado de forma ativa. Mas é preciso juntar a este empenhamento, a vontade dosgovernos desses países e da indústria farmacêutica. Só assim a situação será resolvida. Por tudo isto, é premente que mudar o rumo da investigação sobre a insulina. Poucos têm sido os avanços na preservação e incremento da insulina endógena. Para tal, o caminho passará pela prevenção da diabetes tipo 1, pelos mecanismos de regeneração das células β e pelo transplante das células dos ilhéus pancreáticos, a partir das “stem cells”.
Bibliografia: Celebrating 100 years of insulin. Diabetologia: Volume 64, issue 5, May 2021