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A Endocrinologia e Eu - Simões Pereira

A Endocrinologia e Eu
Ed.
Abril 2023

A Endocrinologia acompanha-me desde há quase cinquenta anos, pelo que, ao longo deste tempo tive a oportunidade de testemunhar e viver, até agora, a sua grande evolução, em todos os seus aspetos, o que também me permite destacar algumas curiosidades do início da minha formação.

Depois de um Ano de Prática Clínica e outro de Internato de Policlínica, assim se chamavam na altura, este interrompido em 23 de Abril de 1974, para cumprir Serviço Militar, iniciei o Internato de Especialidade em Setembro de 1976, no Serviço de Endocrinologia e Doenças Metabólicas dos Hospitais da Universidade de Coimbra, sob a Direção do Dr. Almeida Ruas onde fui o primeiro interno de especialidade daquele Serviço.

O Internato de Especialidade de Endocrinologia da carreira médica hospitalar era de apenas três anos e não estavam previstos estágios obrigatórios.

Para além das sessões de formação no Serviço, outros meios de informação eram escassos. Havia algumas revistas da área na biblioteca da Faculdade de Medicina das quais se podiam fazer fotocópias dos artigos de interesse. Mas era complicado porque as fotocópias saiam molhadas e tinham de secar alguns minutos. Um artigo mais extenso e era um autêntico estendal na biblioteca.

Frequentei voluntariamente e com alguma regularidade o Laboratório de Hormonologia da Faculdade de Medicina dirigido pela Dr.ª Margarida Moreira, onde me familiarizei com as técnicas de colorimetria e fotometria, então usadas para doseamento das hormonas e dos seus metabolitos. Só mais tarde surgiram os métodos radioimunologicos. Todos os resultados eram discutidos de acordo com a informação clínica. De tal modo que a diretora, entusiasmou-se e acabou por tirar também a especialidade de Endocrinologia.

Os doentes diabéticos eram ensinados a fazer pesquisa da glicose na urina com a Glicofita, as famosas cruzes e a variar as doses de insulina de acordo com as mesmas. De princípio havia apenas um tipo de insulina, a Insulina Lenta e só depois apareceu a Semi-Lenta, mas de tal modo impuras que eram frequentes as distrofias nos locais da injeção.

Relativamente às doenças da tiroide o cintigrama e as curvas de fixação do Iodo eram os exames de eleição. Só mais tarde surgiu a ecografia.

A patologia era variada, como hoje, dominada pela diabetes e pela tiroideia, só que em situações mais específicas, não dispúnhamos de tratamento, como por exemplo, a hormona de crescimento para os nanismos hipofisários. Na ausência de meios de diagnóstico, a história clínica era elemento da maior importância.

Para a inscrição no Colégio da Especialidade de Endocrinologia Nutrição da Ordem dos Médicos era necessário fazer um exame em tudo idêntico ao do final do Internato de Especialidade Hospitalar.

Tive ainda a oportunidade de assistir á 1ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, renovada, em Março de 1979, em Coimbra e de participar no 1º Congresso Nacional de Endocrinologia em Março de 1980, em Lisboa

Para terminar direi que a Endocrinologia continua comigo. Ao longo de todos estes anos, além de um Serviço que criei e de uma Carreira Médica Hospitalar que vivi intensamente, a Endocrinologia tem-me proporcionado momentos inesquecíveis na minha vida profissional e pessoal.