A Literatura entrou cedo na minha vida pela Voz das impetuosas personagens e os atormentados universos da oralidade escrita saramaguiana. A persuasão dos seus diálogos, um apelo à fusão do pensamento do autor e da personagem (e do leitor) numa, certamente longa, oração, despertou em mim o fascínio pela narrativa que, na atualidade, como Saramago diria, mais que contar histórias, se debruça sobre a questão humana que sobra, “quem somos”.
Iniciei a minha atividade literária sob a forma de adaptação de guiões para teatro escolar e com a publicação de narrativas curtas em coletâneas de contos; posteriormente escrevi e publiquei o romance “Vertigem” (Chiado Editora, 2009). A entrada na Medicina frena algum espaço para a criatividade e a Literatura passou a ser uma atividade paralela e mais passiva, com a publicação de crónicas, a mais recente, “Intermitências da Morte” (in Memória COVID), no contexto da recente pandemia.
A Literatura é essencial na Medicina; a curiosidade inata de quem Lê é crucial quer na abordagem da pessoa, na empatia e no estabelecimento da relação médico-doente, quer na perspetiva de investigação patológica. Simultaneamente, a Arte é a escapatória ideal para o racionalismo, conferindo uma visão e t(r)ato que perseveram mesmo na fadiga dos dias mais cinzentos.
“Não há nenhuma lei que obrigue as pessoas a levantar os olhos para o espaço ou a baixá-los para esse outro universo que é uma página escrita. (…) Sempre haverá alguém para abrir comovido um livro, para querer saber o que está por trás das aparências. Cada livro é uma viagem para o outro lado.”
José Saramago