A Propósito dos 100 anos da Descoberta da Insulina: retrato de D. Sebastião por Cristóvão Morais
A riqueza da expressão artística reside precisamente na multiplicidade de interpretações que permite. A pintura alia à fruição plástica e cromática a dimensão simbólica e narrativa, num conjunto que é isso mesmo – arte, o mistério que a acompanha e que conduz ao encantamento.
No retrato de D. Sebastião por Cristóvão Morais, realizado em 1571 para ser oferecido ao papa Pio IV, o rei português surge de rica armadura como importante combatente da cristandade. Seria esse o objectivo. Talvez a parecença com o tio Filipe II, o mais poderoso monarca.
Mas a fragilidade de um jovem solitário e pouco saudável também lá se encontra. O drama de um país que dele dependia para manter a independência. E a situação que a isto conduziu, com a morte precoce dos nove filhos do avô D. João III, sendo ele o único neto – o Desejado.
Simboliza a morte do pai, príncipe D. João de Portugal, aos 17 anos, numa descrição clássica de Diabetes juvenil – “torturado por uma insaciável sede (...) abre a janela e embebe em lenços a água da chuva para saciar a sede antes de entrar em coma”.
O segundo participante, o cão, é o símbolo clássico da lealdade. Para Sebastião, seria talvez uma companhia fiel nos desportos da caça que tanto apreciava. Não saberia, contudo, que mais de três séculos após a sua morte, serão os cães os símbolos da conquista científica que foi a descoberta da insulina – a fazer um século nos dias de hoje.
Tarde de mais para o seu pai, para a Dinastia de Avis e para a independência do país.
Mais um exemplo da descoberta que a arte permite – Quantos Alcácer Quibir poderão ter sido evitados pela descoberta da insulina?
Se...