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Espaço do Interno - Vitória Duarte

Espaço do Interno
Ed.
Outubro 2022

A visão de uma recém-especialista

Terminei o meu internato em dezembro 2021, com aprovação em exame final em março 2022. No momento de escrita desta rubrica, ainda me encontro a trabalhar no Hospital onde realizei o internato, aguardando o novo concurso para médicos especialistas. Este hiato de tempo fez-me pensar nas minhas perspetivas futuras. Antigamente, era certo que a grande maioria dos internos que terminavam a especialidade ficavam no seu Hospital de origem. Hoje, a escolha do local onde vou iniciar a minha carreira como especialista já não é tão linear. As gerações anteriores tiveram circunstâncias bem diferentes da minha. Em 2009 acabaram os contratos de médicos em exclusividade, que permitiam um salário suficiente com total disponibilidade do profissional. Agora, a sobrecarga horária e burocrática, associada a baixos salários faz-me ponderar novas oportunidades de carreira. Estou longe de ser a única, pois as condições no público têm vindo a deteriorar-se e os novos especialistas desertam. A culpa não é dos Serviços, que tentam ao máximo recrutar novos internos com a perspetiva de se estabelecerem ali no futuro. No entanto, após o exame de especialidade, vários colegas escolhem caminhos alternativos. Muitos aceitam convites de hospitais privados, porém, contratos a tempo inteiro começam a escassear. Alguns entram na indústria farmacêutica. Contudo, a maioria requer alguma experiência de investigação ou em medical affairs. Outros, os que sonham mais alto, emigram. Após o meu exame, decidi participar numa feira de emprego com várias agências de recrutamento. O Dubai oferece salários incomparáveis, ideal para pessoas solteiras com espírito aventureiro. O Reino Unido e a Escandinávia também parecem opções atrativas. No entanto, devo relembrar que na maioria dos países europeus um Endocrinologista é primariamente um internista, tendo a seu cargo enfermarias de Medicina, o que pode não cativar a todos. O meu futuro ainda é incerto. Por agora, fico por cá, mas tenho a certeza de que quero sonhar mais alto.