Tenho 52 anos. Fiz o Curso de Medicina na Universidade de Coimbra e o internato de Endocrinologia nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Durante o internato, fui também Assistente Convidado de Genética Médica e estive envolvido em vários projetos de investigação sobre a genética das doenças endócrinas. Quando acabei o internato pensei que queria aprofundar o meu percurso científico e não queria apenas restringir-me às atividades clínicas de rotina. Após alguma indecisão, candidatei-me com sucesso a uma bolsa de doutoramento e parti para a Universidade de Oxford. Mais tarde apercebi-me que foi a decisão acertada e que a mudança de instituições pode ser muito enriquecedora e abrir novos horizontes. Terminado o doutoramento, aceitei um convite para integrar uma nova faculdade de medicina na Covilhã e regressei a Portugal. Atualmente sou Professor Catedrático de Endocrinologia, na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, lidero um grupo de investigação dedicado às causas genéticas das doenças endócrinas, e sou endocrinologista numa unidade privada de saúde. O meu dia típico de trabalho só é típico na primeira meia-hora (ler e responder aos emails e breve leitura das primeiras notícias do dia). A partir daí, não há um dia igual aos outros. Entre aulas, escrever artigos e projetos, orientar teses, reunir com a equipa de investigação, e consultas, não sobra muito tempo. Acrescem as tarefas administrativas que vão pesando cada vez mais com a progressão na carreira académica. O que eu gosto mais na minha profissão é a possibilidade de conjugar as atividades clínica, científica e pedagógica. Tenho a firme convicção de que cada uma destas vertentes reforça as restantes, constituindo um ciclo virtuoso que nos ajuda a sermos melhores profissionais. Os meus projetos atuais de trabalho são fazer mais e melhor até ao limite das minhas capacidades. Arrependo-me de pouco, embora abundem os pequenos erros de atos ou omissões, que fazem parte da aprendizagem e que nos ajudam a crescer. No futuro, gostaria de visitar Kiev como capital de um país livre e independente. Gostava de ter mais tempo para ler e viajar. A Endocrinologia portuguesa deveria apostar numa verdadeira rede de referenciação que permita concentrar as patologias mais raras em centros diferenciados, melhorar os cuidados de saúde e sermos internacionalmente mais competitivos. Um conselho que dou aos mais novos é que não tenham medo de sair da vossa zona de conforto e de procurar novas experiências.
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Perfil - Manuel C. Lemos
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Julho 2022