Nasci em Lisboa e licenciei-me em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Fiz o internato de Endocrinologia no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa. Quando acabei o internato os meus dois filhos já tinham nascido e pensei que iria entrar num período mais calmo de vida profissional. Não foi bem assim. Mais tarde surgiu a possibilidade de fazer um estágio no Laboratório de Endocrinologia Molecular e Celular do MD Anderson Cancer Center (Houston, Texas, EUA) onde adquiri competências que foram determinantes para a evolução do meu percurso. De regresso, em 1994, iniciei o rastreio genético de famílias com Neoplasias Endócrinas Múltiplas tipo 2 e desde então tenho desenvolvido algum trabalho na área da Medicina Translacional. Durante mais de 30 anos, trabalhei no IPO de Lisboa e na Faculdade de Ciências Médicas. Como todos, tive que fazer algumas escolhas mas a maior foi a decisão de aceitar, em 2016, o convite para assumir funções de Direção no Serviço de Endocrinologia do HSM. Atualmente sou Diretora do Serviço de Endocrinologia do CHULN-Hospital de Santa Maria e Professora Associada Convidada da Faculdade de Medicina de Lisboa. O meu dia típico de trabalho não existe. Tenho tarefas a cumprir regularmente como consultas, reuniões e aulas. O resto é imprevisível. A cada dia surgem solicitações novas. O que gosto mais na minha profissão é a natureza da relação médico-doente cuja dimensão humana é singular e que importa preservar. Os meus projetos atuais de trabalho prendem-se com a otimização de procedimentos, circuitos e protocolos no âmbito do Centro de Tumores Hipofisários do HSM e que recentemente passou a integrar a rede europeia de referenciação. Arrependo-me de não ter trabalhado, como médica, numa ONG em África. No futuro gostaria de, lembrando Fernando Pessoa (Ricardo Reis), poder dizer que pus quanto sou no mínimo que fiz. Gostaria de ter mais tempo para deixar de me preocupar com as horas. A Endocrinologia portuguesa deveria apostar na implementação de redes de referenciação com vista a regular a relação de complementaridade entre os hospitais e a hierarquizar cuidados de modo a aumentar a eficiência e a satisfação de utentes e profissionais. Um conselho que dou aos mais novos: não tenham medo da mudança nem de correr riscos.
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Perfil - Maria João Martins Bugalho
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Abril 2022