Newsletter da SPEDM

Pergunta ao Especialista - Adriana Sousa Lages

Pergunta ao Especialista
Ed.
Abril 2023

Melatonina: será capaz de replicar ou aumentar os efeitos antienvelhecimento do exercício físico?

O desenvolvimento de estratégias farmacológicas para o tratamento de patologias relacionadas com o envelhecimento, apresenta-se cada vez mais apetecível, de modo a mimetizar os benefícios comprovados do exercício físico. A melatonina (N-acetil-5-metoxitriptamina) surge como um dos principais suplementos antioxidantes de origem sintética de maior acessibilidade. É uma hormona indolaminérgica, produzida a partir do triptofano, libertada em circulação de forma pulsátil pela glândula pineal e que atinge o seu pico máximo de secreção durante a madrugada. A produção de melatonina está funcionalmente dependente do ciclo de iluminação ambiental característico do dia e da noite. Pode ainda ser sintetizada por outros tecidos como o coração, o fígado, a placenta, o rim, o intestino e a pele.

O processo de envelhecimento fisiológico está intimamente ligado à perda de secreção de melatonina e ao declínio da amplitude da sua secreção circadiana. Acredita-se que parte das ações da melatonina sejam mediadas via Nuclear factor-erythroid 2-related factor 2-Antioxidant response elements (Nrf2-ARE), um regulador da atividade antioxidante indireta. Em resposta ao stress oxidativo, o Nrf2 liga-se a elementos de resposta antioxidante (AREs), nas regiões promotoras de genes antioxidantes fundamentais (como o gene da Superóxido Dismutase (SOD1) e da Catalase (CAT)). O Nrf2 interage com outros reguladores cruciais, como o fator de transcrição nuclear- kB (NF-kB) e o gene p53. O efeito de promoção da longevidade celular associado à melatonina tem sido atribuído também via ativação do gene sirtuína 1 (SIRT1). 

Atualmente não dispomos de evidência robusta que nos permita definir uma estratégia de utilização da melatonina como um farmacomimético dos benefícios do exercício físico no envelhecimento, nomeadamente, quanto à segurança na administração exógena para este fim, dose de administração suplementar necessária e eventual indicação para a sua suplementação em caso de insuficiência. Assim, a sua utilização não deverá ser considerada uma estratégia substitutiva a uma dieta balanceada e à prática de exercício físico regular. 

Leitura recomendada:

  • De Sousa Lages et al; Therapeutics That Can Potentially Replicate or Augment the Anti-Aging Effects of Physical Exercise; Int J Mol Sci . 2022 Sep 1;23(17):9957. doi: 10.3390/ijms23179957.
  • Rebelo-Marques A et al; Aging Hallmarks: The Benefits of Physical Exercise; Front Endocrinol (Lausanne). 2018; 9: 258. Published online 2018 May 25. doi: 10.3389/fendo.2018.00258