Trabalhar como endocrinologista num hospital oncológico implica uma mudança substancial de paradigma, sobretudo pelo tipo de patologia abordada. Entidades habitualmente consideradas raras, tais como os tumores neuroendócrinos e os carcinomas da supra-renal, tornam-se frequentes quando se trabalha neste contexto. Similarmente, neoplasias endócrinas que são habitualmente observadas em estadios iniciais nos hospitais generalistas, como os carcinomas da tiróide e os feocromocitomas/paragangliomas, são geralmente seguidas nos IPOs em fases mais avançadas.
Ser o principal médico responsável pelo seguimento do doente em situações de progressão da doença, implicando decisões terapêuticas difíceis, comunicar más notícias e gerir expectativas, é também um desafio adicional com o qual somos confrontados mais frequentemente do que num hospital geral. A complexidade e gravidade das patologias oncológicas ensinam-nos a saber priorizar o que é mais relevante e a evitar exames e tratamentos potencialmente fúteis. Todas estas especificidades culminam na imposição de uma maior disponibilidade por parte do médico e de uma capacidade de adaptação constante para acomodar estas exigências.
Certamente os desafios são grandes mas, no meu caso, largamente compensados pelo interesse que a patologia oncológica oferece.