Artigo RPEDM
Perspectivas Actuais sobre a Hormona (Vitamina) D
Grupo de Estudo de Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas (GODOM) da SPEDM
Rev Port Endocrinol Diabetes Metab. 2023;18(SPL3)
A vitamina D foi descoberta há cerca de 100 anos, mas é das hormonas mais antigas na evolução do planeta, tendo contribuído para a construção do esqueleto dos vertebrados e portanto na evolução da vida aquática para a terrestre.
Deveria denominar-se “Sistema Hormonal da Vitamina D” e como tal, a Endocrinologia é a especialidade mais adequada para se ocupar dela.
Com esta publicação, o GODOM pretendeu não apenas atualizar alguns conhecimentos nesta área (desde aspetos de fisiologia, metodologia e indicações para doseamento, prevalência e fatores de risco de inadequação, doses recomendadas e tóxicas, até várias situações clínicas endócrinas e não endócrinas), mas também sensibilizar os endocrinologistas a assumirem como sua uma hormona que teima em querer ser de todos e para todos.
Ana Paula Barbosa, Coordenadora do Grupo de Estudo de Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas (GODOM) da SPEDM; Hospital Santa Maria, CHULN, Lisboa; Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Artigos EM REVISTAS INTERNACIONAIS
The Relationship Between Fetal THRB Genotype and Maternal Thyroid Function.
Salas-Lucia F, Liao XH, Jiang H, Dumitrescu AM, Refetoff S, Anselmo J.
Thyroid. 2023 Sep 13. doi: 10.1089/thy.2023.0236. Online ahead of print.
Durante a primeira metade da gravidez isto é, até por volta das 20 semanas de gestação, o feto é integramente dependente das hormonas tiróideias maternas, atendendo a que a glândula tiróideia fetal não dispõe de maturacao suficiente para assegurar a produção das suas próprias hormonas. Neste contexto, um défice ou um excesso de hormonas tiróideias maternas pode ter consequências deletérias na maturação e inclusivamente na viabilidade fetal. Por sua vez e tal como demonstramos no presente trabalho, os níveis maternos de hormonas tiróideias podem ajustar-se ao genótjpo do feto. Assim, quer em grávidas normais, quer em grávidas portadoras da mutação do receptor beta da hormona tiróideia (R243Q), os níveis sericos de T3 e T4 livres foram significativamente mais baixos nas gravidezes em que o feto era portador da mutação (R243Q) do que nas gravidezes em que os fetos eram normais. A interpretação mais plausível para este achado , é de que a mutação genética do feto potencia a expressão da (desiodase tipo 3) DIO3 na unidade feto/placentária provocando a inativacao da T3 e T4 em T2 e rT3 e reduzindo desta forma os níveis séricos das hormonas maternas. De certa forma, podemos considerar a gravidez, como um hipotiroidismo consumptivo em que a expressão de DIO3 assume o papel de regulador predominante entre as trocas hormonais feto-maternas.
João Anselmo, Hospital Divino Espirito Santo de Ponta Delgada
Factors for second non-diagnostic ultrasound-guided fine-needle aspiration cytology in thyroid nodules.
Cosme I, Nobre E, Bugalho MJ.
Ann Endocrinol (Paris). 2023 Jun 10:S0003-4266(23)00111-7. doi: 10.1016/j.ando.2023.05.008. Online ahead of print.
Este artigo pretendeu avaliar a influência de características demográficas, clínicas ou ecográficas na recorrência de uma CAAF tiroideia não diagnóstica. Foi feito um estudo retrospetivo de 230 nódulos tiroideus com CAAF não diagnóstica, sendo que destes 63 tiveram uma segunda CAAF não diagnóstica. Verificou-se que os homens, os medicados com anticoagulantes/antiagregantes, os nódulos hipoecogénicos e os nódulos com microcalcificações tiveram maior risco de uma segunda CAAF não diagnóstica. Radioterapia cervical prévia, história familiar de carcinoma tiroideu, tiroidite de Hashimoto ou o valor da TSH não influenciaram o risco de uma segunda CAAF não diagnóstica.
Inês Cosme, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte
Klinefelter syndrome: The characterization of the clinical and sociological features of 51 patients.
Mendonça F, Souto S, Dória S, Carvalho D.
Rev Int Androl. 2023 Jul-Sep;21(3):100349. doi: 10.1016/j.androl.2023.100349. Epub 2023 Apr 11.
A Síndrome de Klinefelter é a aneuploidia mais frequente entre indivíduos do sexo masculino. Este estudo, que incluiu 51 doentes diagnosticados entre Janeiro/2010 e Dezembro/2019, revelou que 86% apresentavam cariótipo clássico (47 XXY), sendo a média de idades ao diagnóstico de 30,2±14,3anos. No que diz respeito às suas habilitações literárias, 59,1% não frequentaram o ensino secundário e 11,4% concluíram estudos universitários. O estudo de infertilidade motivou 54,2% dos diagnósticos, as queixas relacionadas com hipogonadismo 18,7% e a ginecomastia 8,3%. Técnicas de reprodução medicamente assistida foram usadas em 39,6% dos doentes estudados (19/48), com uma taxa de sucesso de 57,9% (11/19), sendo 2 dos casos com recurso a esperma de dador e 9 com gâmetas do próprio indivíduo. É importante também salientar que apenas 41% dos doentes foram submetidos a tratamento com testosterona.
Fernando Mendonça, Centro Hospitalar e Universitário de S. João; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
European Neuroendocrine Tumor Society (ENETS) 2023 guidance paper for appendiceal neuroendocrine tumours (aNET).
Kaltsas G, Walter T, Knigge U, Toumpanakis C, Santos AP, Begum N, Pape UF, Volante M, Frilling A, Couvelard A.
J Neuroendocrinol. 2023 Aug 16. doi: 10.1111/jne.13332. Online ahead of print.
É com muita honra que vejo que as Recomendações da ENETS para os TNE do apêndice, das quais sou co-autora, como membro do Advisory Board daquela Sociedade, ser selecionado para a Newsletter da SPEDM. O resultado final da publicação resultou de um imenso trabalho do grupo escolhido para a sua elaboração. Quando as lemos, tendemos a achar que são verdades definitivas e consensuais. Pelo contrário, são o resultado possível de uma discussão científica intensa, atendendo à escassez de dados robustos para esta localização particular dos TNE. A dificuldade foi encontrar evidência científica para suportar a experiência clínica da maior parte dos intervenientes, que justificava uma atitude menos agressiva nas indicações para hemicolectomia direita, atendendo à idade jovem e excelente prognóstico da maior parte dos casos. Felizmente, os resultados do estudo multicêntrico SurvivApp publicado na Lancet Oncology em 2023, vieram dar o suporte científico necessário para mudar o paradigma, relativamente ao Consenso de 2016. As Recomendações para os TNE do apêndice sugeridas nesta Newsletter, são apenas uma das recomendações disponíveis. Foi um privilégio participar na reunião de discussão das restantes recomendações, cinco das quais publicadas, estando em fase final de preparação mais três.
Ana Paula Santos, Instituto Português de Oncologia do Porto; Precancerous lesions and early cancer management group, RISE@CI-IPO (Health Research Network); Porto Comprehensive Cancer Center (Porto.CCC)
Efficacy and safety of SGLT2 inhibitors in individuals with type 1 diabetes under continuous subcutaneous insulin infusion: a real-world study
Silva VB, Fonseca L, Duarte DB, Puga FM, Assuncao G, Garrido S, Teixeira S, Vilaverde J, Cardoso MH.
Endocr Regul. 2023 Aug 10;57(1):144-151. doi: 10.2478/enr-2023-0018.
O uso adjuvante de iSGLT2 na DM tipo 1 tem sido globalmente associado a uma melhoria no controlo glicémico mas a um risco acrescido de CAD euglicémica. Estudos dirigidos a DM tipo 1 tratados com PSCI são escassos. O nosso trabalho pretendeu avaliar o impacto metabólico e a segurança dos iSGLT2 em 23 pessoas com DM tipo 1 sob PSCI, ao comparar o controlo glicémico e a ocorrência de complicações agudas no momento de introdução do iSGLT2 e após 3, 6 e 12 meses. O estudo concluiu que os iSGL2 aumentaram significativamente o tempo no intervalo alvo sem aumentar o tempo em hipoglicemia. Dois casos de CAD euglicémica foram descritos, ambos com IMC <27kg/m2. É necessária uma seleção cuidadosa dos doentes para evitar a ocorrência de complicações.
Vânia Benido Silva, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa