Newsletter da SPEDM

Tema de Capa - A perspetiva da Psiquiatria

Tema de Capa
Ed.
Julho 2022

"A todos os que escaparam ao inescapável, a todos os que ajudaram alguém a fugir e aos que preparam a sua fuga"

A Axila de Egon Schiele, André Tecedeiro (Porto Editora, 2020)

Desafios da Medicina Transgénero em Portugal  

 

- Perspetiva sincrética de um psiquiatra com competência em sexologia 

 

Desafios para a Psiquiatria 

É incluir a Psiquiatria no plano de cuidados médicos globais e integrados de assistência. 

É reconhecer o maior risco de violência na população dita transgénero. 

É reconhecer o maior risco de "micro" agressões na vida diária, designado "minority stress". 

É reconhecer que o adoecer mental pode acontecer de várias formas: 

- como qualquer pessoa na população em geral 

- como qualquer pessoa vítima de violência, 

mais que qualquer pessoa 

- que não sofre de Transfobia 

- que não sofre de Disforia de Género; 

com particular vulnerabilidade para a desinformação, rejeição familiar e saída de casa, mobbing/bullying e desemprego, com impacto na saúde e qualidade de vida.


É promover a saúde mental a par e passo do processo de autofirmação de género. 

É lutar contra o estigma sobre a mesma, factor de prognóstico. 

É intervir precocemente para modificar o impacto negativo imposto pela doença mental. 


É não excluir a Sexologia, para melhor entendimento do binómio sexo-género e os benefícios clínicos da intervenção conjunta, Saúde Sexual e de Género. 


É trabalhar em Equipa com todas as especialidades na definição de um plano biopsicossocial de acordo com as necessidades da própria pessoa (e de mais ninguém). 


Desafios para da Medicina Transgénero


É aceitar que a Transfobia é estrutural à semelhança do racismo. 

É reconhecer que isso acontece nos serviços de saúde, com impacto na qualidade dos cuidados e procura dos mesmos, e assim a promover a mudança. 

É encarar que o Modelo de Saúde é estruturalmente Cisgénero, e não deve impor o Modelo Cisgénero ao Transgénero, exceto autodeterminação do próprio. 


É criar e desenvolver cuidados de saúde específicos para as pessoas com Disforia de Género (DSMIV)/Incongruência de Género (CID-11) sem aumentar o preconceito e discriminação sobre estas pessoas. 


É alargar a discussão a todos os intervenientes para definir as Boas Práticas de Cuidados, desde às orientações científicas, à experiência clínica, passando pelas associações de apoio até ao testemunho das próprias pessoas com disforia de género, provavelmente por ordem inversa à supremacia elencada. 


É apostar claramente na formação e treino dos profissionais de saúde.  

É separar claramente Disforia de Género/Incongruência de Género da Identidade de Género, a primeira, foco de atenção médica, a segunda, livre de qualquer patologização. 

É educar para as novas identidades e desconstruir as clássicas, promover a coexistência de ambas. 


É autodeterminar-se assim como recomendado à população que assiste. 

É entender que a Diversidade de Género não é a Ideologia de Género mas sim a Identidade de Género Homem-Mulher, binária. 

É autoafirmar-se em igualdade de género: cis e trans, género. 

É entender que no futuro será a Medicina da Diversidade de Género ao invés da Medicina Transgénero. 


É um desafio paritário, inclusivo e humanista. 

É por, e com: todas, todos e todes.  


Construa-se agora: o futuro.