"A todos os que escaparam ao inescapável, a todos os que ajudaram alguém a fugir e aos que preparam a sua fuga"
A Axila de Egon Schiele, André Tecedeiro (Porto Editora, 2020)
Desafios da Medicina Transgénero em Portugal
- Perspetiva sincrética de um psiquiatra com competência em sexologia
Desafios para a Psiquiatria
É incluir a Psiquiatria no plano de cuidados médicos globais e integrados de assistência.
É reconhecer o maior risco de violência na população dita transgénero.
É reconhecer o maior risco de "micro" agressões na vida diária, designado "minority stress".
É reconhecer que o adoecer mental pode acontecer de várias formas:
- como qualquer pessoa na população em geral
- como qualquer pessoa vítima de violência,
mais que qualquer pessoa
- que não sofre de Transfobia
- que não sofre de Disforia de Género;
com particular vulnerabilidade para a desinformação, rejeição familiar e saída de casa, mobbing/bullying e desemprego, com impacto na saúde e qualidade de vida.
É promover a saúde mental a par e passo do processo de autofirmação de género.
É lutar contra o estigma sobre a mesma, factor de prognóstico.
É intervir precocemente para modificar o impacto negativo imposto pela doença mental.
É não excluir a Sexologia, para melhor entendimento do binómio sexo-género e os benefícios clínicos da intervenção conjunta, Saúde Sexual e de Género.
É trabalhar em Equipa com todas as especialidades na definição de um plano biopsicossocial de acordo com as necessidades da própria pessoa (e de mais ninguém).
Desafios para da Medicina Transgénero
É aceitar que a Transfobia é estrutural à semelhança do racismo.
É reconhecer que isso acontece nos serviços de saúde, com impacto na qualidade dos cuidados e procura dos mesmos, e assim a promover a mudança.
É encarar que o Modelo de Saúde é estruturalmente Cisgénero, e não deve impor o Modelo Cisgénero ao Transgénero, exceto autodeterminação do próprio.
É criar e desenvolver cuidados de saúde específicos para as pessoas com Disforia de Género (DSMIV)/Incongruência de Género (CID-11) sem aumentar o preconceito e discriminação sobre estas pessoas.
É alargar a discussão a todos os intervenientes para definir as Boas Práticas de Cuidados, desde às orientações científicas, à experiência clínica, passando pelas associações de apoio até ao testemunho das próprias pessoas com disforia de género, provavelmente por ordem inversa à supremacia elencada.
É apostar claramente na formação e treino dos profissionais de saúde.
É separar claramente Disforia de Género/Incongruência de Género da Identidade de Género, a primeira, foco de atenção médica, a segunda, livre de qualquer patologização.
É educar para as novas identidades e desconstruir as clássicas, promover a coexistência de ambas.
É autodeterminar-se assim como recomendado à população que assiste.
É entender que a Diversidade de Género não é a Ideologia de Género mas sim a Identidade de Género Homem-Mulher, binária.
É autoafirmar-se em igualdade de género: cis e trans, género.
É entender que no futuro será a Medicina da Diversidade de Género ao invés da Medicina Transgénero.
É um desafio paritário, inclusivo e humanista.
É por, e com: todas, todos e todes.
Construa-se agora: o futuro.