Newsletter da SPEDM

Tema de Capa - Cláudia Amaral

Tema de Capa
Ed.
Janeiro 2023

Sendo a Endocrinologia uma especialidade médica, uma formação parcelar sólida em Medicina Interna é fulcral para uma abordagem holística do doente com patologia endócrina. Considero, assim, de grande valor a manutenção de um período de 12 horas de serviço de urgência semanal de Medicina Interna, tutelado por Internistas, durante os dois ou os três primeiros anos de internato. O serviço de urgência é o espaço ideal para sensibilizar os internos para as descompensações agudas das doenças crónicas, nomeadamente endócrinas, criando-lhes ferramentas para uma abordagem atempada e eficaz.

O Estágio de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, poderá ser mais homogéneo entre as diferentes instituições. Julgo fazer sentido sugerir um número mínimo de consultas autónomas externas, nas diferentes áreas da Endocrinologia e Diabetes. Deverá manter-se, pelo menos, um período semanal de consulta de Endocrinologia Geral ao longo de todo o estágio, possibilitando o contacto com uma diversidade de patologias endócrinas. A todos os internos, deverá ser permitida a rotação pelas diferentes consultas do serviço onde está integrado (gerais, específicas ou multidisciplinares), o que, para além das vantagens na aquisição de conhecimentos, permitirá o contacto com a forma de trabalho de diferentes especialistas, ajudando-o a encontrar o seu próprio método de trabalho e garantindo, assim, uma aprendizagem robusta e abrangente. No último ano, poderá ser dada a oportunidade do interno aprofundar conhecimentos na sua área de eleição. A formação em DM tipo 1, com a crescente inovação tecnológica, necessita de tempo e dedicação, devendo ser realizada num serviço que permita ao interno contactar com os diferentes sistemas de monitorização de glicemia intersticial, de perfusão subcutânea de insulina, e também com os sistemas hybrid-closed loop.

A área técnica da Ecografia e Citologia da Tiroideia também merece maior atenção. Será premente definir um número mínimo de ambos os procedimentos, realizadas de forma autónoma, tuteladas por um endocrinologista dedicado a esta área, conferindo a estas técnicas uma vertente clínica. Sou da opinião que todos os internos integrados em hospitais generalistas deveriam completar um período num centro diferenciado em doenças oncológicas, que permita a frequência de consultas de seguimento, mas também de decisão clínica sobre oncologia tiroideia, nomeadamente de cancro avançado, e de tumores neuroendócrinos. Em relação aos Estágios Opcionais são variados e de interesse para a nossa especialidade. Sugiro que o estágio de laboratório seja dividido entre o laboratório de química clínica e o laboratório de genética. A genética é uma área emergente no diagnóstico, na orientação, no seguimento e no tratamento do doente endócrino, sendo uma mais valia a formação neste campo. Por fim é fulcral homologar uma grelha de avaliação curricular, conhecida por todos logo no início desta caminhada, facilitando a construção de um CV à medida de cada interno, com vista ao melhor desempenho. Ensinar adultos não é fácil. O nosso papel é criar condições e igualdade de oportunidades de aprendizagem, para que quem estiver disponível e motivado, consiga adquirir conhecimentos sólidos, que nos deixem a sensação de missão cumprida.