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Tema de Capa - Cláudia da Matta Coelho

Tema de Capa
Ed.
Outubro 2022

Sou especialista em Endocrinologia, Obesidade e Diabetes em Londres, no Guy’s and St Thomas’ NHS Foundation Trust.

Durante o internato, fiz um estágio de três meses em Endocrinologia Geral em Londres, com a Professora Barbara McGowan. O contacto inicial foi facilitado pela Professora Mariana Monteiro, a quem muito agradeço. Terminei a especialidade no Hospital de Braga em 2019. Após concluir a especialidade, voltei para o Guy’s and St Thomas’ como Obesity Clinical Research Fellow. Durante três anos, trabalhei exclusivamente em obesidade em três áreas:

- Investigação. Fui sub-investigadora em vários ensaios clínicos. O serviço de Endocrinologia tem um centro clínico académico integrado, cujo portfolio é exclusivamente composto por estudos em diabetes, endocrinologia e obesidade, além de uma equipa permanente dedicada à investigação;

- Médica num programa online estruturado para a perda e manutenção de peso, que inclui low-calorie diets e farmacoterapia para os doentes elegíveis (Saxenda® e, a partir de 2023, Wegovy®). Faço parte de uma equipa multidisciplinar que inclui nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e médicos. O programa tem a duração de 24 meses e decorre numa plataforma digital em grupos de quinze participantes. Mais de 1250 participantes fazem parte do programa anualmente;

- Médica em contexto hospitalar na avaliação de doentes pré e pós-cirurgia bariátrica.

No Reino Unido, a formação de um endocrinologista demora sete anos (três anos de tronco comum médico e quatro anos de formação específica em Endocrinologia, Diabetes e Medicina Interna). São especialistas em Endocrinologia, Diabetes e Medicina Interna. Após a especialidade, podem trabalhar como Clinical Fellow numa determinada área temática antes de se tornarem Consultant (especialista). Enquanto especialistas, geralmente trabalham nas enfermarias de Medicina Interna três meses por ano.

Comparativamente a Portugal, as grandes diferenças são as áreas de especialização vincada, o trabalho e reuniões multidisciplinares, e o constante feedback formal e informal. Há mais flexibilidade – mesmo durante a formação – para fazer investigação, participar noutras atividades ou ter um horário reduzido por motivos pessoais. Também desde cedo motivam a formação em liderança e gestão de equipas.

Para trabalhar no Reino Unido, mesmo num estágio observacional, é necessária a inscrição no General Medical Council, o que inclui um exame de inglês. Após o Brexit, a transição de Portugal para o Reino Unido tornou-se mais difícil por não haver um reconhecimento automático da formação em Endocrinologia.

Logo após o fim da especialidade, decidi emigrar pela experiência de trabalhar no NHS e viver em Londres, ter a oportunidade de me subespecializar em obesidade, e pela flexibilidade. O reverso é a instabilidade dos contratos temporários e as oportunidades mais limitadas pela minha falta de formação em Medicina Interna.

Planeio continuar no Reino Unido, agora como Consultant, porque sou profissionalmente muito realizada e Londres é agora casa.