A formação em Endocrinologia-Nutrição em Portugal implica a formação de 1 ano em Medicina Interna, 3 anos em Endocrinologia-Nutrição e um ano de formação complementar. Este modelo foi adotado após um período em que a formação era exclusivamente de 3 anos de Endocrinologia. Quando foi adotado, o CNE da Ordem dos Médicos procurou equipará-lo ao modelo americano. Nos EUA, as sub-especialidades médicas obrigam a formação de base idêntica à da Medicina Interna e depois 2 anos de formação específica na subespecialidade e eventualmente um ano de investigação. Inicialmente só podiam candidatar-se a uma sub-especialidade, os especialistas titulares da Medicina Interna (MI). Mais tarde passou a ser dos candidatos que já tinham formação suficiente em MI para se candidatarem, isto é, Board Eligible, mesmo sem ter feito a avaliação. Neste contexto considerou-se que os 2 anos do internato de policlínica, atualmente 1 ano do ano comum, mais um ano de Medicina Interna seriam equivalentes nesta formação. Nalguns serviços americanos assegura-se 80% da formação será em cuidados assistenciais sendo o restante para investigação. A endocrinologia clínica baseava-se no exame clínico e a pesquisa de fenótipos das grandes síndromes, servindo o laboratório como instrumento para confirmar o seu diagnóstico (historicamente alguns laboratórios endócrinos foram dirigidos por endocrinologistas). Nos últimos anos, o controlo dos doseamentos hormonais passou para a patologia clínica e por outro lado os doseamentos hormonais passaram a permitir o diagnóstico laboratorial em fases subclínicas. O exemplo da hipersecreção dos incidentalomas suprarrenais, cuja decisão terapêutica se baseia nas repercussões e co-morbilidades é paradigmático. Tal contribuiu para que outras especialidades, sem grande diferenciação, mas com acesso laboratorial pudessem diagnosticar doenças endócrinas.
Entendo que a futura formação em endocrinologia deve em duração manter-se como a atual, mas diferenciar-se nos conteúdos. O conceito de medicina de precisão é um conceito que é, em muitos aspetos, endocrinologia molecular. Com efeito as mensagens de comunicação do nosso organismo – hormonas – são percebidas por leitores – os receptores hormonais. Temos assistido nos últimos anos ao conhecimento mais alargado de hormonas – doseamentos em diversos fluidos como saliva, lagrimas e cabelo - dos seus receptores à produção de fármacos que se dirigem a receptores específicos – agonistas dos receptores do GLP-1, antagonistas dos receptores da somatostatina 2 e 5 e com vias de administração alternativa – péptidos nasais, orais. Esta noção deve ser incorporada na formação e é fundamental ser expandida, aliada a melhor conhecimento da genética e das suas novas técnicas – next generation sequencing.
Recentemente temos assistido a uma expansão, particularmente na área da diabetes, à telemonitorização. A partilha de informação sobre o controlo glicémico modificou a relação médico-doente, e vai expandir cada vez a telemedicina. A recente pandemia por SarsCov2 veio estimular esta prática e generalizá-la. Tem requisitos próprios que devem ser interiorizados pelos novos especialistas. Para além do doseamento de pares conjugados de hormonas tróficas hipofisárias e das hormonas glândulas endócrinas alvo, as provas dinâmicas continuam a ser a pedra de toque na endocrinologia sendo renovadas e mantidas.
A formação em estatística, é uma formação teórica, não exigirá propriamente um estágio, mas deve ser incluída no programa de formação futura pois permitirá ler com maior sucesso os artigos publicados, desenhar estudos de melhor qualidade e aprofundar a investigação que queiram realizar.
A endocrinologia continua a ser uma especialidade viva e dinâmica a atrair novos formandos.