A actuação no diagnóstico, tratamento e seguimento da patologia tiroideia, tem vindo a mudar nos últimos anos, no sentido de se ser menos interventivo. Esta alteração baseia-se no conhecimento de que os carcinomas são na sua grande maioria pouco agressivos, associado ao aperfeiçoamento da ecografia e da citologia e ao advento de novas tecnologias.
Após a tiroidectomia subtotal ter naturalmente desaparecido, tem-se evoluído no sentido do aumento das indicações da lobectomia com istmectomia, em detrimento da tiroidectomia total. Esta opção não é só verdadeira na patologia benigna unilateral, mas também na bilateral se a expressão clínica for unilobular ou se, por outro lado, houver uma potencial dificuldade de absorção da levotiroxina ou do cálcio, de que é exemplo evidente o status pós cirurgia da obesidade.
A lobectomia também tem sido uma opção aceite no carcinoma diferenciado pequeno, intratiroideu, unifocal, de tipo histológico favorável, sem invasão vascular nem metástases, em adultos sem antecedentes de irradiação cervical nem história familiar. Esta opção está associada a menor morbilidade e pode ser suficiente para tratar estes tumores de óptimo prognóstico, nomeadamente os que não necessitam de ablação com iodo 131. Pode ser executada em ambulatório e totalizada sem aumento de morbilidade. Outra vantagem é que pode dispensar a suplementação com levotiroxina em casos selecionados, ao contrário da tiroidectomia total em que as hormonas tiroideias têm de ser obrigatoriamente fornecidas.
A diminuição das complicações operatórias é um dos objectivos que se tem procurado alcançar, para o qual os avanços na técnica cirúrgica e a existência de equipas com formação especializada em unidades funcionais de cirurgia endócrina tem sido crucial. A avaliação pré e pós-operatória do metabolismo fosfo-cálcico e a introdução de protocolos para suplementação com cálcio e vitamina D permitiram a melhoria do pós-operatório com alta precoce, sem aumento da taxa de reinternamentos. Estas determinações têm permitido igualmente o despiste de hiperparatiroidismo primário, muito subdiagnosticado em Portugal, e o seu tratamento no mesmo tempo operatório. Noutro sentido, os doseamentos pré-operatórios de calcitonina possibilitam o diagnóstico de carcinoma medular e a realização de esvaziamento do compartimento central aquando da tiroidectomia e assim evitar reintervenções com o natural aumento da morbilidade associada à dissecção de uma área já abordada.
Um dos aspectos que tem mudado muito nos últimos anos na cirurgia é o desenvolvimento técnico com o objectivo de facilitar os gestos cirúrgicos e também assim diminuir a morbilidade.
A utilização de pinças ultrassónicas ou diatérmicas para selagem vascular permite a dispensa de clips ou de fio de sutura e desta forma lograr-se um melhor controlo da hemostase, assim como uma diminuição do tempo operatório. Em alguns casos, podem ser aplicados hemostáticos para minimizar os seromas e hematomas. Deste modo, em múltiplos centros tem sido defendido a dispensa de drenos na tiroidectomia.
A neuromonitorização do recorrente e do ramo externo do laríngeo superior tem facilitado a identificação nervosa e a sua preservação não só morfológica, mas também funcional, com a consequente diminuição da disfonia iatrogénica. Este aspecto é particularmente importante nos casos das reintervenções, nos carcinomas invasivos e nos bócios volumosos.
Para tentar reduzir o hipoparatiroidismo, que é reconhecidamente a complicação mais frequente e mais grave da tireoidectomia total, pode-se proceder à identificação das paratiróides por autofluorescência e à avaliação da sua viabilidade por imunofluorescência.
A procura de um melhor resultado estético tem sido a motivação para se realizar uma incisão cervical mais pequena, sem comprometer a segurança cirúrgica e também menos visível encerrando a pele com sutura intradérmica ou cola biológica. Nesse sentido, foi desenvolvida a abordagem mini-invasiva, de que a tiroidectomia videoassistida (MIVAT) é a opção mais conhecida. A dissecção tecidular limitada condiciona menos dor e morbilidade, menor tempo operatório e de estadia hospitalar. A possibilidade de ser feita em regime de one day surgery e de um mais rápido regresso à vida activa, são igualmente vantagens a realçar.
Finalmente, são de salientar as vias em que se remove a tiróide com cicatriz fora da região cervical (scarless surgery). De referir, no entanto, que apesar de esteticamente atrativas, não são mini-invasivas porque acarretam uma extensa dissecção tecidular desde a incisão (axilar, torácica, retro-auricular ou vestibular da boca) até à região tireoideia e que, por outro lado, podem causar morbilidade diferente da observada na cervicotomia clássica.