Desde 1996, o gene KISS1 localizado no cromossoma 1q32 e os seus produtos de transcrição, têm assumido crescente interesse em diversas áreas desde a reprodução ao metabolismo glucídico. A sua designação é inspirada nos chocolates Hershey’s Kisses, uma vez que foi descoberto por um grupo de investigação de Hershey, na Pensilvânia. (Roseweir AK, et al; 2009)
O percursor inicial consiste num polipéptido de 145 aminoácidos (Kp-145) codificado pelo gene KISS1. Após clivagem enzimática pela furina, origina um péptido de 54 aminoácidos (Kp-54) e, posteriormente, origina 3 fragmentos truncados de 14 (Kp-14), 13 (Kp-13) e 10 aminoácidos (Kp-10), coletivamente designados por “kisspeptinas”. (Okleay AE et al, 2009)
A primeira descrição do gene KISS1 foi efetuada no contexto de linhas celulares de melanoma metastizado, originando a hipótese da sua ausência de expressão ser útil na distinção da extensão tumoral. (Lee et al. 1996)
Apesar do início da sua investigação focar-se na área oncológica, a evidente expressão do gene KISS1 na placenta, hipotálamo e tecido gonadal intensificou a sua aplicabilidade na área da saúde reprodutiva sobretudo na regulação no início do desenvolvimento pubertário. (Lee et al. 1996, Muir et al. 2001; Guillamon, A et al, 2011)
É assim reconhecido o seu papel crucial no controlo do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HHG) pela relação íntima dos neurónios kisspeptina hipotalâmicos e os neurónios produtores de gonadoliberina (GnRH). Esta população distinta de neurónios kisspeptina são a chave fundamental no sistema de retrocontrolo do eixo HHG uma vez que expressam recetores para hormonas esteróides sexuais e integram inputs de múltiplos neurocircuitos, tais como, os provenientes do núcleo supraquiasmático. (Robertson JL et al,2009; Smarr BL et al, 2012)
Pode ser dividida, no humano, em 2 subpopulações funcionais com diferentes localizações hipotalâmicas e resposta oposta aos esteróides sexuais: no núcleo arqueado (retrocontrolo negativo) e na área pré-ótica (retrocontrolo positivo que antecede a onda de LH pré-ovulatória). (Matsui et al., 2004)
Mais recentemente, a expressão do gene KISS1 e KISS1R foi identificada em folículos, ovócitos e corpo lúteo, bem como, no tecido trofoblástico vilositário (KISS1 e KISS1R) e extra-vilositário (KISS1R) sugerindo uma potencial ação autócrina e parácrina durante a fase inicial de implantação embrionária. (D’Occhio MJ et al, 2020) Assim, o seu interesse clínico tem sido explorado enquanto biomarcador promissor para a identificação precoce de complicações na gravidez (especialmente, no contexto de perda gestacional), adicionando capacidade diagnóstica à interpretação do valor de βhCG isolado. (Phylactou M et al., 2020)
A evidência de elevada expressão de KISS1 nos ilhéus pancreáticos e em diferentes leitos vasculares no humano (como a aorta, artérias coronárias e veia umbilical) tem expandido o seu interesse também à doença metabólica e cardiovascular (Hauge-Evans et al., 2006; Mead et al., 2007, (Dudeck M et al, 2018; Andreozzi F et al,2017).