A diabetes mellitus é uma das doenças crónicas mais prevalentes a nível global e a sua incidência tem vindo a aumentar.
O enorme impacto social da diabetes motivou a investigação de novas estratégias de prevenção e tratamento.
As estratégias atualmente disponíveis de transplante de pâncreas ou de ilhotas pancreáticas permitem obter remissão, mas com necessidade de imunossupressão para a vida, estando reservado para indivíduos com história de crise hiperglicémica ou hipoglicemia grave recorrentes e que estejam em lista para transplante renal.
Nos últimos anos, o surgimento de novas moléculas de imunoterapia para o tratamento de doenças inflamatórias e autoimunes abriu novas portas para a obtenção de um regime que permita reverter ou atrasar a progressão da diabetes tipo 1.
Podemos classificar as estratégias de prevenção da diabetes mellitus tipo 1 em:
1) prevenção primária, que é aplicada em indivíduos de risco antes do surgimento de autoanticorpos;
2) prevenção secundária, em indivíduos que apresentam autoanticorpos ou nas fases iniciais de disglicemia, nos quais o objetivo é suspender ou atrasar a destruição das células β;
3) prevenção terciária, em indivíduos que já apresentam diabetes, com intuito de induzir e prolongar uma remissão parcial.
A natureza autoimune da diabetes mellitus tipo 1 abre a possibilidade para terapias imunológicas na sua prevenção. Porém, as dúvidas persistentes relativamente às complexas interações genética - ambiente - imunorregulação tornaram a investigação sobre a prevenção da diabetes tipo 1 particularmente complexa. Alguns autores sugerem que a prevenção da diabetes tipo 1 irá passar não por uma intervenção simples mas por um programa de prevenção com várias intervenções. Na prevenção primária, a administração de insulina por via oral continua a prometer algum impacto na prevenção. Na prevenção secundária, a insulina intra-nasal demonstrou impacto no sistema imune, no entanto sem impacto na prevenção da diabetes. É de realçar o potencial que a administração de teplizumab (anti-CD3) tem no atraso da progressão para diabetes.
Mesmo que não seja possível evitar por completo o seu surgimento, o atraso do diagnóstico para uma idade mais avançada permitiria reduzir o enorme impacto que esta doença tem em idade pediátrica. Ainda na prevenção secundária, encontram-se em curso ensaios clínicos com hidroxicloroquina e golimumab (anti-TNF-α). A fase 3 da prevenção é a mais estudada, com documentação de remissão parcial e temporária induzida por imunossupressores como a associação de azatioprina e prednisona ou a ciclosporina, porém com surgimento de eventos adversos. O teplizumab e o abatacept também mostraram benefício na indução de remissão parcial. Obtiveram-se também melhorias na função da célula β com o recurso a globulina anti-timócito e sitagliptina. O uso de estratégias de modulação das células T reguladoras também é uma estratégia em investigação, com o recurso a infusão de células policlonais e aldesleucina (IL-2 recombinante).
Nas últimas décadas, o surgimento dos análogos de insulina revolucionou o tratamento da diabetes, com a entrega mais fisiológica de insulina, melhoria do controlo metabólico e redução do risco de hipoglicemia, particularmente na diabetes tipo 1. Mais recentemente, e na era da monitorização contínua da glicose intersticial, o lançamento dos análogos de insulina ultra-rápida (ie Fiasp e Lyumjev) deram resposta à necessidade de melhorar a variabilidade glicémica, com melhor controlo da glicemia pós-prandial e redução do risco de hipoglicemia. Por outro lado, a maior comodidade na administração dos bólus de insulina integra-se nas necessidades das pessoas com diabetes.
Os análogos de insulina basal de segunda geração (ie Toujeo e Tresiba) também estão a permitir uma maior estabilidade do controlo metabólico e maior comodidade no que diz respeito ao número de administrações e hora da toma. Em 2020, foram publicados os dados relativos a um ensaio clínico de fase 2 que comparou a utilização de insulina glargina com a insulina icodec em pessoas com diabetes tipo 2. Trata-se de uma insulina de administração semanal que, nesta publicação, demonstrou ter um perfil de eficácia e segurança semelhante à glargina. No entanto, as suas características farmacocinéticas tornam-na valiosa para indivíduos que possam ter dificuldade na aceitação ou na execução do tratamento.
Encontram-se em investigação novos análogos de insulina, “inteligentes” e intrinsecamente responsivos à glicose. Esta característica obtém-se através da introdução de motivos proteicos que, na ausência de glicose deixam a molécula inativa e, na presença de monossacarídeos induzem alterações conformacionais que tornam a molécula ativa. Também estão em investigação insulinas complexadas com outras moléculas que afetam a depuração da insulina ou a ligação ao seu receptor. As insulinas «inteligentes» prometem.
Em suma, a investigação sobre a imunoterapia e as novas moléculas de insulina encontra-se numa fase muito ativa e promete melhorar a vida das pessoas com diabetes, tanto pela via da prevenção como pela da redução do fardo associado ao tratamento.