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Tema de Capa - O impacto da inteligência artificial na Medicina e na Endocrinologia - João Fonseca

Tema de Capa
Ed.
Outubro 2023

O impacto da inteligência artificial na Medicina e na Endocrinologia

É cada vez mais reconhecido o potencial da Inteligência artificial (IA) em revolucionar a prática da medicina em geral, e da endocrinologia em particular. Depois de muitos anos de avanços progressivos, principalmente com abordagens de “machine learning” e “deep learning”, o sucesso, neste último ano, da IA generativa (“Large Language Models, LLMs”), veio acelerar enormemente o interesse na utilização da IA na saúde. No entanto, se cada vez temos menos dúvidas que a IA irá ser utilizada de forma disseminada no dia-a-dia dos profissionais de saúde, é fundamental que um certo deslumbramento que estas tecnologias são capazes de despertar, não nos faça saltar passos fundamentais para garantir a segurança e a eficácia da sua utilização. Afinal, IA é (apenas) uma área das ciências da computação que se dedica ao desenvolvimento de sistemas que realizam tarefas que normalmente seriam consideradas como exigindo inteligência humana, por exemplo a aprendizagem, a resolução de problemas e a tomada de decisões. Assim, tal como um fármaco ou um teste diagnóstico, as aplicações da IA têm de ser desenvolvidas de forma a responder a necessidades concretas dos doentes/serviços de saúde, e a sua efetividade depende da qualidade dos dados que são utilizados. É, pois, fundamental que sejam avaliadas em ensaios clínicos e em estudos de “vida real”.

A IA está já a começar a ser utilizada na endocrinologia. As aplicações clínicas com alguma evidência/prova científica incluem o diagnóstico, o prognóstico ou a personalização do tratamento. Tem também sido demonstrada a capacidade da IA em acelerar a investigação quer pré-clínica, quer clínica. Alguns estudos indicam resultados muito promissores na previsão do risco de desenvolvimento de complicações e no seu diagnóstico. Têm também sido testados algoritmos de IA para a personalização do tratamento que têm a capacidade de utilizar conjuntos alargados de variáveis (por exemplo níveis de glicose, hábitos do doente ou respostas individuais à insulina). Outra utilização relacionada com o tratamento é o desenvolvimento de “digital therapeutics”, como forma de intervir em aspetos de estilo de vida relacionados com patologia endocrinológica e suas complicações. Os recentes avanços dos “LLMs” poderão ajudar a reduzir o tempo despendido pelos profissionais de saúde por exemplo na capacitação dos doentes, assim como em tarefas clinico-administrativas, como a criação automatizada de sumários de registos clínicos (por exemplo, a visualização da evolução de múltiplos parâmetros analíticos), de notas de alta ou de cartas de referenciação.

Apesar do potencial da IA, existem ainda grandes desafios e limitações para sua utilização disseminada na medicina e na endocrinologia. Estes desafios incluem a qualidade e disponibilidade dos dados, a interoperabilidade entre sistemas, a validação clínica e questões regulamentares, bem como como a aceitação e formação dos profissionais de saúde, preocupações éticas e de viés ou os custos e restrições de recursos para a sua implementação.

A importância atual e futura da IA na saúde requer novos profissionais que tenham formação multidisciplinar, capazes de fazer pontes entre a clínica e as tecnologias. Esta necessidade foi uma motivação que levou a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto juntamente com um conjunto alargado de parceiros académicos e não académicos a criar a nova licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica (www.saudinob.med.up.pt) que terá início em 2024/5 e que terá um ramo especifico de analise de dados e inteligência artificial.

Ilustrando, de alguma maneira, o estado atual da IA, na elaboração deste texto utilizei as aplicações de IA generativa Chatgpt 3.5 e BARD. No entanto, não terão contribuído para mais de 1/3 do texto, o que será uma ajuda menor do que ferramentas com pouca ou nenhuma IA como a PUBMED ou que não consideramos como IA, como os motores de busca. Daqui a poucos anos, a utilização da IA será muito diferente, esperemos que ajudando a produzir para um texto mais útil.