Terminei o meu internato de Endocrinologia em 2016, e rumei depois a Londres para me diferenciar em patologia hipotálamo-hipofisária. Entre 2016 e 2019 fiz o meu doutoramento no laboratório da Professora Márta Korbonits na Queen Mary University of London (QMUL), financiado por duas bolsas que me foram atribuídas por instituições britânicas após processos de seleção competitivos. Durante esses 3 anos em Londres, participei também na consulta externa e nas diferentes reuniões clínicas e multidisciplinares no St Bartholomew’s Hospital como Clinical Fellow. Em 2019 mudei-me para Leiden onde realizei um estágio clínico e de investigação financiado por uma bolsa da UEMS no Centro de Tumores Endócrinos na Leiden University Medical Center (LUMC) sob orientação do Professor Alberto Pereira. Posteriormente, estive em Malta sensivelmente 1 ano a trabalhar num projeto médico para uma agência da União Europeia. Regressei a Portugal no ano passado.
Sem dúvida que o marco principal nesta “epopeia” foi a realização do doutoramento na QMUL, feito que considero determinante na minha carreira pois desenvolvi uma série de novas capacidades e competências, e conheci muitas pessoas, locais (viajei imenso!) e diferentes realidades e métodos de trabalho. Foi verdadeiramente inspirador trabalhar com a Professora Márta Korbonits, uma das grandes referências mundiais em patologia hipofisária, e tê-la como mentora ao longo desta viagem. Beneficiei muito da sua sabedoria, e por seu intermédio, vi-me envolvido num vasto leque de projetos aliciantes, dos quais destaco o International FIPA Consortium (estudo que inclui mais de 3000 doentes com tumores hipofisários provenientes de mais de 60 países), e a contribuição a convite para várias revistas (como o The Journal Clinical of Endocrinology & Metabolism) e outras fontes bibliográficas de relevo em Neuroendocrinologia (por exemplo a 5ª Edição do Livro The Pituitary, ou o Endotext). Destaco ainda a sensação de realização pessoal com o término do doutoramento, cujo início foi marcado por uma autêntica “saída da zona de conforto”, não só relacionada com a mudança de país e língua, mas também com a mudança de ambiente de trabalho (literalmente do hospital para a bancada do laboratório). Paralelamente, mantive atividade clínica no St Bartholomew’s Hospital e na LUMC essencialmente dedicada a doentes com tumores hipofisários, tumores neuroendócrinos e tumores da suprarrenal/paragangliomas, o que me permitiu ganhar experiência clínica e conhecimentos em patologia endócrina mais complexa.
Esta experiência além-fronteiras, em diferentes países e muito diversificada, foi extremamente enriquecedora do ponto de vista profissional e pessoal, tendo alargado imenso os meus horizontes e a minha rede de contactos a nível europeu. Por outro lado, este percurso dotou-me de um conjunto de competências que considero muito relevantes para a minha atividade clínica, académica e científica como médico endocrinologista e investigador em Portugal. Esta experiência ajudou-me também na redefinição dos meus objetivos profissionais, bem como na minha capacitação para os atingir, que passam agora por desenvolver a minha atividade clínica dedicada especialmente a doentes com patologia hipofisária, bem como manter a minha atividade académico-científica na área da Neuroendocrinologia, e ainda contribuir na educação e formação médica pré- e pós-graduadas.
Atualmente, trabalho como médico endocrinologista no Serviço de Endocrinologia do Hospital de Santa Maria, e faço investigação clínica e básica na área de Neuroendocrinologia potenciadas pela recente angariação de 2 bolsas de investigação (uma nacional e outra americana). Leciono também na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, colaboro como revisor em várias revistas científicas, sou consultor para a Agência Europeia do Medicamento (EMA), e recentemente fui admitido como membro da direção do ENEA Young Researchers Committee (EYRC). Em termos de perspetivas futuras no SNS, pretendo continuar a dar o meu contributo sobretudo para a melhorar os cuidados médicos prestados aos doentes com patologia endócrina, mas também na formação de internos da especialidade não só em termos clínicos assistenciais, mas também na vertente científica e académica.