Newsletter da SPEDM

Tema de Capa - Sara Lopes

Tema de Capa
Ed.
Janeiro 2023

O internato é uma etapa profissional desafiante e exigente face à multiplicidade de conhecimentos a adquirir em paralelo com a intensa atividade clínica e científica. Nesse sentido, avaliando estes 5 anos, considero que a formação de Endocrinologia em Portugal fornece uma preparação sólida e completa, potenciando a criação de especialistas qualificados e motivados. 
Uma mais-valia do programa de formação atualmente em vigor é a oportunidade de realizar estágios em diferentes especialidades médicas. Estes contactos com realidades distintas, mas complementares, permitem-nos adquirir uma visão mais abrangente da área de atuação da Endocrinologia. 

Outra possibilidade que surge, e que julgo ser uma experiência enriquecedora, é a realização de períodos da nossa formação noutros serviços de Endocrinologia, tanto a nível nacional como internacional. Esses estágios proporcionam a oportunidade de vivenciar diferentes formas de trabalho e funcionamento de serviços e instituições. Além disso, podemos participar em diferentes tipologias de consulta ou outras valências que podem não estar disponíveis no nosso serviço de origem. O desenvolvimento de protocolos inter-hospitalares com vista a facilitar e otimizar estes estágios seria uma vantagem adicional. 

Em termos de formação em ecografia e punção aspirativa da tiroide, cada vez mais serviços têm obtido autonomia na realização destas técnicas. Fazer este estágio exclusivamente num serviço de Endocrinologia ou como acréscimo ao de Anatomia Patológica ou Imagiologia Clínica permite-nos melhor integrar a componente técnica com a componente teórica e clínica. 
A nível científico, existem inúmeras oportunidades de aprendizagem nas diversas temáticas abrangidas pela Endocrinologia, através de cursos, jornadas e congressos. A disponibilização adicional de cursos de introdução à especialidade e formações longitudinais durante o internato, poderia ser potencialmente benéfica na uniformização das qualificações profissionais. Incluir áreas mais particulares nessas formações também seria pertinente, como por exemplo, a medicina transgénero, as lipodistrofias ou as doenças metabólicas ósseas. Seguindo esta linha de pensamento, e considerando os objetivos de desempenho incluídos no programa de formação (“…deverá haver treino e aquisição de conhecimentos, no sentido de o médico interno se tornar apto em educação terapêutica”; “capacidade de trabalhar em equipa”), é também importante participarmos em ações formativas no âmbito da comunicação clínica e em áreas não clínicas, mas complementares e necessárias à nossa prática profissional diária, como sejam a gestão e trabalho em equipa. 

Tendo em consideração a multiplicidade de atividades científicas e formativas realizadas durante o internato, assim como a necessidade de estudo autónomo e orientação de casos clínicos, seria uma mais-valia garantir tempo alocado no horário laboral para produção científica e preparação da atividade assistencial. Adicionalmente, realizarmos formações em áreas como elaboração de projetos de investigação, medical writing ou bioestatística é vantajoso para a nossa atividade como investigadores. 

Para concluir, o internato de Endocrinologia em Portugal constitui um período de aprendizagem constante e de interações enriquecedoras. Estas experiências permitem-nos adquirir conhecimentos e capacidades clínicas aprofundados. Temos também a oportunidade de começar a traçar o nosso caminho como futuros especialistas, de acordo com as nossas ambições e áreas de interesse, o que contribui para que o internato seja uma jornada gratificante e significativa.